O CD está com seus dias contados. Isso, na verdade, não é uma grande novidade. Diversas fontes mostram que a procura pelo produto está cada vez menor. Embora a queda brusca de vendas de CDs apontada pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (leia-se grandes gravadoras) nos últimos anos tenha outros fatores, como, por exemplo, a grande crise do setor causada principalmente pelo alto custo de seu monopólio da mídia, realmente o futuro do CD parece mesmo ser virar artigo de colecionador. Ou quase.
Basta perguntar a si mesmo qual foi a última vez que foi a uma loja comprar um CD. Mesmo que tenha sido recente, esse hábito, com certeza, diminuiu e muito nos últimos anos. Pelo menos eu admito, faz muito tempo que não compro um disco. Mas nem por isso podemos dizer que o público esteja alheio às novidades, ou pouco interessado por música. A Internet está aí pra mostrar o contrário. Blogs sobre música se multiplicam, e cada vez mais artistas disponibilizam seus discos inteiros em diversos sites. Pelo menos os que não têm algum contrato que impeça isso.
Em meio a essa revolução digital, cabe uma grande reflexão sobre o tema. Será mesmo que o CD vai acabar? E o que virá em seu lugar? MP3?
Venho pensando bastante sobre isso ultimamente e creio que acontecerá algo um pouco diferente do que ocorreu com o vinil ou LP. Naquela ocasião, o CD veio mesmo pra substituir o saudoso “bolachão”, por vários motivos: durabilidade, praticidade (não precisa trocar de lado), qualidade digital, entre outros. E substituiu mesmo, tanto que em pouquíssimos anos praticamente todos os títulos eram produzidos exclusivamente em CD. Hoje, resta apenas uma fábrica de vinil na América Latina, destinada a prensagens limitadas de discos voltados, principalmente, a fãs assíduos desse ou daquele artista e colecionadores. Nessa revolução digital que ainda estamos vivendo, não existe, ainda, nenhum produto palpável para substituir o CD. O MP3 não passa de um simples arquivo, compactado, que fica dentro do computador, I-Pod ou MP3 Player. Para um público mais exigente, que ainda gosta de ter o álbum do artista em suas mãos, o MP3 não tem condições de substituir o CD, tanto pela qualidade inferior do som quanto pela ausência deste produto completo do artista, muitas vezes com um conceito embutido, trazendo imagens, entrevistas e outras informações no encarte, que pode ser também uma obra a parte ou complementar ao CD. Para esse público, que ainda não é pequeno, o MP3 passa a ser algo muito útil para ouvir músicas em casa no computador, no trabalho, conhecer coisas novas e usar no seu I-Pod enquanto realiza seu cooper matinal. Em outras palavras, substitui o velho discman, e não o CD.
Entretanto, o mercado de CDs deve continuar caindo. Inegavelmente, as gerações estão cada vez mais acostumadas a baixar músicas do e-Mule, por exemplo, e menos habituadas a comprar um CD. Essa diminuição no consumo de CDs terá, com certeza, um forte impacto nessa indústria, tanto para as grandes gravadoras quanto para os independentes. Porém, um mercado restrito de distribuição dos CDs deve continuar ainda por muito tempo para esses consumidores que fazem questão de ter O Álbum do artista, muito diferente do vinil que se restringe a colecionadores e românticos da “velha guarda” que não conseguem se desfazer de seu acervo. Eu me incluo nessa categoria.
Nisso pelo menos os independentes estão “na frente” das grandes gravadoras, digamos assim. Livres de contratos absurdos, alguns desses artistas já perceberam há tempos essa eficiente maneira de distribuição, e lançam seus discos na Internet, muitas vezes músicas inéditas e, inclusive, alguns grupos lançam seu “disco” somente na Internet. Não que as gravadoras não estejam atentas à essa revolução digital. Muito pelo contrário. Tanto que alguns altos executivos já chegaram a afirmar que, realmente, o CD está com seus dias contados do ponto de vista de mercado, e estão apostando em vendas separadas de músicas, por MP3, e até toques de celular. Porém, como grandes corporações, tudo precisa ser calculado e planejado exclusivamente para o lucro. Como os artistas independentes têm outras preocupações além dessa, acabaram enxergando essa vantagem interessante de colocar seus trabalhos na Internet.
Viva a Revolução Digital!!! Ou não???
Téo Ruiz, direto do overmundo
5 comentários:
O cd ja deu o que tinha quer dar.
Que ele descanse em paz!
Téo: VIVA!
Estrela: o lugar das fotos é uma fazenda em Inácio Martins (um dos cantos mais frios do estado, tava muito gelada a água!!!). Vamos?
boa semana! bjs
Sabe que nem essa fábrica aqui no Brasil existe mais? Quer dizer, existir existe, mas não aceitam mais pedidos de prensagem. O Ordinaria Hit, a banda do meu irmão, já tinha mandado tudo pra lá quando eles entraram em contato dizendo que não mais fabricariam os bolachões. =(
Triste, né?
Estrela.
Sinto uma mistura confusa de nostalgia e medo do que será o futuro no seu texto.
O CD está com os dias contados sim, e por um motivo bem mais forte que na época da substituição dos vinis pelos discos digitais. Pelo fato de que estamos entrando num tempo em que as idéias circulam e habitam um espaço que não depende mais dos suportes físicos. Nada mais contra-industrial que isso, não acha? E, sim, o tempo dos álbuns, do lado A/lado B, tudo isso tabém está com os dias contados. E também o da propriedade intelectual e dos direitos autorais e editoriais. As gravadoras, editoras e artistas já sofrem as consequências. E cabe justamente a eles o papel de fazer com que esse processo se alastre também para todos os outros campos que envolvem a propriedade intelectual, como a indústria farmaceutica e o desenvolvimento de tecnologia em geral. é graças à propriedade intelectual que populações inteiras têm morrido de AIDS e várias outras doenças na África. É graças à obrigatoriedade de pagamento de licença para uso de softwares que no Brasil é muito mais caro produzir qualquer coisa com equipamentos de pior qualidade do que nos Estados Unidos e na Europa.
Posicione-se. Vai ficar com os saudosistas ou aceita perder o fetiche do suporte material para que possamos algum dia nos aproximarmos da situação em que o acesso às idéias seja realmente livre e generoso pra todos?
beijo e saudades.
Oi Villaça, fui eu quem escrevi o texto.
Não posso negar que estou apreensivo com o futuro e, também, com um certo romantismo nostálgico do CD. Aliás, isso está escrito no texto. Mas você não acha normal? Desculpe, mas se você está perfeitamente seguro de todas as inovações que vem por aí, acho que você é minoria. Claro, não estou aqui pregando o apocalipse, ou o que devemos fazer agora meu deus do céu! É somente uma reflexão, e na verdade procurei ser sim o mais realista possível. MAs não há como negar, existe sim um mercado seleto de CD que persiste, além dos colecionadores como ocorre com o vinil. Isso é uma impressão geral, várias e várias pessoas com quem converso. Não existe dado sobre isso porque ninguém fez um estudo, mas se fizerem vão ver que pessoas ainda compram CDs. Talvez não da Sandy, mas dos independentes, pelo menos, existe uma parcela pequena de consumidores ainda que não é despresível. É inegável, com certeza, que as gerações seguintes não têm mais o hábito de comprar CDs. Espero que isso esteja claro no texto. E tem outras mídias surgindo, com uma capacidade muito maior, permitindo maior qualidade. Enfim, acho também que estamos caminhando para um mundo onde o suporte físico seja limitado. Porém, vejo que isso vai demorar um pouco e por isso o CD ainda é importante. Isso não é romantismo, mas sim constatações. Se acabar, foda-se. Eu vou continuar fazendo música.
E outra: enquanto existir mercado, enquanto pessoas ganharem muito dinheiro às custas da morte de muitas como você mesmo disse, eu ainda cobro meus direitos autorais sim. Enquanto isso existir (acho que nunca vai deixar de existir) não posso admitir que alguém possa ganhar de dinheiro com a minha obra de alguma forma e eu não. Quando tudo mudar e vivermos no paraíso, concordo plenamente com você e também não vou cobrar meus direitos autorais, com certeza.
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