segunda-feira, setembro 13, 2010

Jornal da tarde

Quando a arte vem de berço



PEDRO ANTUNES

Na casa de Estrela, as brincadeiras entre pais e filhos não envolviam apenas bonecas, carrinhos e bolas. Era a morada do escritor Paulo Leminski e da poetiza Alice Ruiz – pais de Estrela –, em Curitiba. Lá, a diversão era com violões, papéis e caneta. Ela tinha entre 5 e 6 anos,mas as imagens se mantêm fortes em sua memória até hoje. O escritor que marcou o tempo pela sua intelectualidade deitava um violão no colo da menina, deixando-a se divertir com os sons. Pai e filha brincavam de compor.

Não são todos os filhos de pais famosos que assumem o sobrenome. É medo da comparação. Uma insegurança normal. Comum. A curitibana Estrela, hoje com 29 anos, faz exatamente o contrário. Figurinha presente em eventos que homenageiam seu pai, falecido em 1989, a cantora, compositora e poetiza assume o sobrenome com a banda Música de Ruiz. Ela e o marido, o também músico Téo Ruiz, chegam ao segundo disco da carreira, intitulado São Sons.

Tudo começou há 10 anos. Depois de quase escolher cursar publicidade, a moça decidiu não fugir mais do óbvio. “Quando criança, não precisei conhecer Camões (Luiz Vaz de Camões, poeta português, autor de ‘Os Lusíadas’) na escola. Eu tinha uma coisa de renegar a escrita. Mas quando vi, deixei de bobagem”, explica. A moça foi cursar música na Faculdade de Artes do Paraná. Lá, ouvia sempre as mesmas perguntas: “Você conhece o Téo, né?”ou “O Téo não é seu primo?” E ela não tinha a menor ideia quem era o tal rapaz, que cursava biologia e gostava de compor música e tocar violão.

Quando, enfim, foram apresentados por amigos em comum, o envolvimento foi rápido. “E já tínhamos um papo, né? Precisávamos saber se éramos parentes”, diz ela. “Mas não somos. O sobrenome Ruiz, que eu e ele temos, vem de origens distintas”, conta Estrela”, que tem um filho de 3 anos com Téo.

‘São Sons’ é o segundo disco do Música de Ruiz, que ainda conta Fred Teixeira (no violão e voz), Dú Gomide (violão, viola, guitarra e vocal), Érico Viensci (baixo, cavaquinho e vocal) e Denis Mariano (bateria e percussão).

Com uma ótima percepção em aliar poesia com música – tema do mestrado de Estrela em Valladolid, na Espanha –, as canções do disco são saborosas de se ouvir. Nem sempre, porém, têm uma aceitação rápida.’ Quimera’, faixa que abre o disco, é uma pancada sonora. Misturando baião, rap e rock, Estrela canta seu descontentamento em relação à indústria cultural: “Se vocês querem essa quimera de música de sucesso / Espera, mas espera sentado contemplando o retrocesso/ Pudera, quem pensa em lucro e grana / pensa em gana, drama e gama / Pondera, ser artista não é empenho?”. “O artista não precisa mais se preocupar em brigar contra a política. Precisa se preocupar com a crise das gravadoras”, conta Estrela, que compôs a música há 4 anos.

No disco, há participações de nomes como André Abujamra, Makely Ka, Iara Rennó, Ceumar e Kléber Albuquerque. Mas é a química entre Estrela e Téo que realmente faz a diferença. É quase como se ainda estivessem brincando com o violão no colo.

Lançamento:
Música de Ruiz
‘São Sons’
Sete Sóis
Preço: R$20

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