sexta-feira, outubro 22, 2010

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Música de Ruiz celebra palavras, idéias e parcerias
Segundo CD traz novas composições de Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz

por Beto Feitosa

Grupo formado em Curitiba e com o DNA e ares da - melhor - vanguarda cultural paranaense, o Música de Ruiz lança o CD São sons. No álbum, editado pelo selo Sete Sóis com distribuição da Tratore, o casal Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz apresenta suas composições, poemas musicados e interessantes parcerias.

Os dois trazem o mesmo sobrenome, mas por pura coincidência. Estrela é filha de Paulo Leminski e Alice Ruiz, criada em ambiente de letras, versos e contracultura. Casou com Téo, com quem também divide (e principalmente multiplica) afinidades artísticas. O álbum revela compositores muito inspirados e com forte traço de personalidade. As criações não se prendem a estilos e escolas, os artistas se mostram livres até para brincar com o próprio mercado.

Dessa desconfortável conversa de arte com negócio vem a inspiração para a genial Quirera, que abre o disco com fina ironia e a participação de Anelis Assumpção. "Compra o nosso disco pra banda decolar / Coloca na novela pra ver no que vai dar", grita a letra que pode conversar com outras delícias que versam sobre o mesmo tema como Pré-pós-tudo-bossa-band, de Lenine e Zélia Duncan, ou a Ciranda do incentivo, de Karina Buhr.

Passam pelo álbum ainda valiosas colaborações de vanguarda como as de André Abujamra (São sons), Carlos Careqa (Cada cabeça uma sentença) e Kleber Albuquerque (no tango-tragédia Verossímel). Ná Ozzetti está em casa no rumo de Chapéu de sobra, uma curiosa ode ao chapéu. Já o doçura de Ceumar aparece em Reivento, parceria dela com Estrela já gravada no último disco da cantora mineira e aqui - mais uma vez - reinventada. A voz cheia de razão de Rubi aparece no rock Trovão.

Embora esteja recheado de vozes - e atitudes - fortes, o duo também se mantém em números solo. Téo canta lindamente Estilhaço, parceria dele com Renato Villaça (que é convidado em Finito e ímtimo). Estrela se mostra menos, mas sua interpretação diferenciada aparece ao longo do disco fazendo segunda voz e também dividindo microfone com os convidados. Em Ávida os dois se encontram e mostram que a tal química também acontece no canto. Além de Estrela e Téo, o grupo conta com Fred Teixeira (violão e vocal), Dú Gomide (violão, viola, guitarra e vocal), Érico Viensci (baixo, cavaquinho e vocal) e Denis Mariano (bateria e percussão).

A palavra - tesouro cuidadosamente lapidado - é matéria prima para o Música de Ruiz. E os autores fizeram a delicadeza de abrir o processo de criação das músicas. O necessário encarte (que pode servir como caderno de poesias) traz notas assinadas pelos próprios comentando faixa a faixa o nascimento, as propostas. Torna ainda mais rica a experiência, expondo idéias e a gênese da (própria) criação.

Basta a lista de participações para entender a proposta diferenciada do Música de Ruiz. Mas o álbum ainda revela surpresas e muito fôlego criativo. Para ouvidos não acomodados e leitores atentos, aí está mais um exemplo da música brasileira moderna que as rádios e TVs não ousam entender. "Se vocês querem essa quirera de música de sucesso / Espera, mas espera sentado contemplando o retrocesso".

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