quinta-feira, dezembro 15, 2005

30 anos refazenda toda gariroba...

Achei no site do Glauco Mattoso uma crítica sobre seu livro "O que é Poesia Marginal". É bem interessante ver uma crítica sobre a coisa toda na época que estava acontecendo. É nessa hora que a gente filtra o olhar do jornalista com visão de profeta. Se 30 anos atrás deu uma bola dentro: genial, se não: um rancoroso azedo! Nesta matéria possuem os dois elementos. E o mais estranho é observar que estamos fazendo mais ou menos as mesmas coisas. Tudo bem, eu já disse lá na Feira em POA que estamos na era da diversidade, o século dos grandes movimentos foi o passado, e tal, eu sei. Tá, deixa pra lá, vamos ao que interessa:





Moacir Amancio (na FOLHA DE S. PAULO, em 1981):


"EQUÍVOCOS POÉTICOS DA DÉCADA PASSADA"

Uma das pragas dos anos 70: a porção de gente que veio brincando,
pensando que estava fazendo poesia. Alguns até faziam mesmo. Nunca,
mesmo que fantasticamente tivéssemos aí uma geração de gênios, toda
aquela produção poderia ser canalizada pela via regra editorial do País,
assaz estreita. Então surgiram os panfletos "poéticos" mimeografados,
livrinhos bem ou mal impressos vendidos de bar em bar, portas de cinema,
teatro, etc. Poetice alastrada.

Foi isso a chamada e às vezes autodenominada poesia marginal. Agora, na
série "O que é", da editora Brasiliense, Glauco Mattoso publica livro
sobre algo que, indica, nunca chegou a existir: a poesia marginal. De
repente quase tudo virou "produção marginal". Evidência de não
identificação com o sistema? Mas que confusão. Enfim, aplicar aos outros
ou a si o adjetivo MARGINAL teria mais a ver com identificação com o
outro lado da moeda do "sistema", nada de contestatório.

Vejam-se alguns exemplos tanto de poesia "participante", como de poesia
do "desbum" citados no livro. Para não variar, a linguagem da primeira é
um amontoado de chavões que demonstram direitinho volver a adesão aos
padrões vigentes. Esse tipo de observação já virou lugar comum, mas
impossível evitá-la. Na segunda a desinformação chega a irritar —
poesia escrita querendo ser analfabeta. Na hora em que a informação é
vital, a sugestão de que a saída está no beco da burrice. Ou vai ver
queriam chegar ao nível do mobral pra ficar de acordo com o modelo
pretendido pelos "homens"?

À primeira vista, toda a movimentação até que parecia bonita,
simpatizava-se com os "marginais". Na segunda ou terceira já fica
esquisito. A gente percebe o uso forçado da palavra, a mentira. E tanto
esforço para quase nada, ou para voltar atrás. As coisas aparecendo como
se jamais alguém houvesse feito poesia no Brasil. Isto também aconteceu
com os romances e contos repetindo fórmulas que o primeiro Jorge Amado
deixava pra lá. Porque não adianta, essa conversa de "espontaneísmo",
pseudo-surrealismo etc. Vale nada. Qualquer trabalho artístico passa a
ter eficácia só quando mexe na linguagem/linguagens e através dela ou
delas remete à realidade.

Estas são algumas das conclusões a que leva a leitura destas 84 páginas
de Glauco Mattoso. No tom didático exigido pela série, ele vai reunindo
alguns exemplos de poesia e idéias da época. Podem achar pequeno o
número de exemplos, no entanto, para o objetivo do autor, agora são
suficientes. Não há aqui nenhuma sugestão de que toda aquela erupção —
cutânea — de poetice deva ser ignorada. Pelo contrário, precisa de
exame e reflexão, ainda mais quando se pensa nas seqüelas existentes na
praça. Oportuna a contribuição de Glauco que, matreiro, chega à frase
final do poeta brasiliense Nicolas Behr: "Poesia é poesia, não precisa
de adjetivo".

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