terça-feira, fevereiro 21, 2006

Aglaja...



"OS HOMENS ACREDITAM MENOS EM DEUS DO QUE AS MULHERES E AS CRIANÇAS, POR CAUSA DA CONCORRÊNCIA"

Eu já postei sobre ela pq os seus textos publicados na revista coYote me impressionaram muito. Ontem eu finalmente li o romance mais famoso dela: por que a criança cozinha na polenta. Literalmente uma porrada no estômago.

A romena Aglaja Veteranyi nasceu em Bucareste em 1962, numa família circense, mas viveu quase toda a vida na Suiça onde se naturalizou. Dirigiu com Jen Nielsen o grupo de teatro Die Engelmaschine, até suicidar-se, em 2002, pouco antes da publicação de seu único romance. Narrado por uma adolescente que se defende da degradação pela ótica infantil, este livro é ao mesmo tempo lírico e cruel. Filha do palhaço e da mulher que se pendura pelos cabelos no circo, a irmã mais nova é distraída pela mais velha noite após noite, ouvindo a lenda romena na qual se cozinha criança na polenta. Assim, as duas reinventam suas próprias vidas tendo por base os absurdos da realidade. Com o provocador romance de Aglaja Veteranyi, a DBA inaugura a falange estrangeira da coleção Risco: Ruído.

"NA HORA DO ABATE, O CACAREJO DAS GALINHAS É INTERNACIONAL, ENTENDEMOS, NÃO IMPORTA O LUGAR."

Apesar de Aglaja ser de uma família circense assim como a personagem você torce muito, lendo o livro, que ele não seja autobiográfico. E se sim (uma hipótese que a autora odiava)justificaria em parte a iniciativa de aos 40 anos ter colocado um fim na própria vida.

"A IMAGINAÇÃO É AUTOBIOGRÁFICA"



Bom, além do trechos do livro vai lá um dos poemas publicados na coyote:



O contrato – de Aglaja Veteranyi


Ele a traía sempre às terças-feiras. Ela o traía às quintas.

Certo sábado ele pediu: ponha percevejos no meu arroz.

Ela fez uma comida picante. Acendeu velas azuis. Colocou um tango.

Eles se abraçaram. Sem sentidos.

E aí veio o sangue.

Na sua boca.

Das suas entranhas.

Ela raramente o achou tão sensual.

No domingo ela pediu: espanque-me.

Ele bateu de cinta no seu rosto. Arrancou-lhe um dedo

com o alicate.

Às 10 em ponto eles apagaram as luzes.

Segunda-feira ambos tinham de levantar cedo.




[Poema publicado na revista Coyote 11. A tradução é de Fabiana Macchi, que traduziu o livro Por que a criança cozinha na polenta de Aglaja, aliás, o único dela publicado aqui no Brasil. Há também outros poemas de Aglaja na revista Inimigo Rumor 17].

2 comentários:

Anônimo disse...

por favor
temos livros traduzidos para o português dessa autora singular? não conheci nada parecido. curiosa.

Migansel disse...

O único livro publicado pela autora foi o da criança na polenta e a Fabiana o traduziu, com perfeição, para o português....mas ela ficou bem conhecida , com somente um livro....tem a poesia, ainda sendo traduzida...