domingo, fevereiro 12, 2006

Pardos...



Ontem vendo uma propaganda sobre o orgulho negro fiquei divagando sobre todos os pardos dos brasil.

Engraçado que foi uma confluência de fatos que me levaram a pensar sobre isso como os livros de Mia Couto e o post no blog do solda (e um comentário chocante do meu filho-torto).

No livro do Mia Couto o enfoque nunca é a cor dos personagens (sempre negros), e raramente ele aborda as questões de preconceito que existem de fato em Moçambique (só pra constar ele é um escritor branco). Bom, ele não aborda o preconceito com os negros, porque com os indianos existe bem forte nos dois livros que a gente leu. Tá mas não é essa a questão.

No post lá (http://cartunistasolda.blogspot.com/2006/02/ritual-dos-ndios-como-tradio.html) mostra o Toninho Vaz, grande amigo de família, e além de tudo biógrafo do meu pai, convesando com o Mano Brown, Racionais MCS. O Mano Brown declarou nunca ter ouvido Arnaldo Antunes, mas acabou até posando com o livro do meu pai quando soube que a minha vó era negra.

Vivi também levantou uma polêmica aqui em casa em dizer que não queria que a gente adotasse uma criança que fosse negra. Quando a gente questionou, ele disse: Ah, porque é uma criança pobre. (Importante: Ele tinha acabado de voltar de férias e passou duas semanas na casa do outro lado da família dele.)

Eu pensei em tudo que se diz do orgulho negro. E o orgulho "mulato" (que é uma merda de expressão que deriva de MULA)??? E sobre as cotas? Eu poderia? No estudo de medula óssea que o Téo faz ele descobriu que o meu tipo é típico dos negros. E aí? Que for olhar pra mim vai pensar "hahahahaha, só se for mulata da barerinha". Polata? Mulaca?

E toda essa parcela miscigenada pacas que não se identifica 100% com negro nem 100% com branco? E a Billie Holliday que quando teve o piripaque final não foi atendida nem em hospital de branco e nem de preto e morreu assim? E o orgulho da mistura? Alguém fala?

E essa associação com classe social? (Que tem gente que teima em propagar essa idéia idiota hereditariamente?)

Dona Zica já disse:
"A cultura da mistura descobriu a cura, que cura nada"...

Racionais disse em uma música: "Quem se considera negro, negro será." (E será que pra comunidade de orgulho negro eu teria esse direito tendo o cabelo liso e olhos verdes?)

3 comentários:

Fillipe disse...

Hum... provavelmente não... a maior hipocrisia dessas comunidades de orgulho negro é que elas são tão racistas quanto a sociedade de que reclamam.
Chamar alguem de preto é racismo, mas de branco não?
Esses movimentos não pregam a igualdade, pregam a inversão de papéis. O rapper Xis tem uma tatuagem que diz "Poder para o povo preto" - diz aí se não é digna de qualquer Ku Klux Klan ou nazismo que se preze?

E.R.L. disse...

Sei lá, acho que não dá pra generalizar. Existem movimentos sérios, e que além de tudo tem uma noção dessa nossa inclassificabilidade. Não penso em negros e brancos, mas em toda uma parcela miscigenada que não se identifica com nada... Acho que o buraco é mais embaixo...

Fillipe disse...

Como diria Nelson, toda unanimidade é burra... Mas acho sim, que TODO movimento que pregue uma versão unilateral ao invés da equalização de papéis tende a cair pra um lado mais egoísta em sua visão da sociedade. Concordo plenamente com você, acho que é assim que deveria ser: não movimentos a favor dos brancos, ou dos negros, ou dos indios, mas um movimento a favor do ser humano.