quinta-feira, junho 01, 2006

A companheira - Julio Cortazar

Mais do que nunca a poesia, hoje mais que nunca, com seu exorcismo de chacais, com uma chama purificadora e sua memória obstinada. Açoitada por uma história vertiginosa, onde nos perdemos no redemoinho astronômico da informação, a poesia mais do que nunca: seus olhos seletores fixando o que não temos o direito de esquecer, salvando pássaros, instantes mágicos como o brilho de luzes cintilantes, como auroras soberbas, luas, a beleza, a dignidade da vida.Mais do que nunca, ali onde abutres de fora e de dentro assanham-se contra os olhos abertos de um povo, arrancam e destroçam as flores do sorriso e o sonho: caricaturas de si mesmos, milionários e coronéis cheirando à morte; contra eles, mais que nunca, a poesia. Na memória dos homens que lutam, ela é sempre uma fonte de armas, a chama do fogão e a espessura dos montes, o trago d’água, a que estende a mão à batalha e ao repouso. Mais que nunca a poesia, porque nela faz ninho o futuro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estrela, salve, salve, paz e bem.

Vi lá, no meu blogue, sua passagem. Estive numa correria doida pra manter, você pode imaginar, meu barco na rota. Consegui - aliás, conseguimos, pois os leitores me ajudaram horrores. É nóis, como se diz pelaí.
Vou ali, terminar a próxima edição da zine, volto depois, pra colher
alívios, que tô precisado, especialmente depois da tormenta.
Baita abraço e besito do
Pirata

Erly Welton Ricci disse...

Para o peeme bandido, brandindo balas na bíblia; para os pececês inconceqüentes explodindo lojas e ruas; para a pobre mãe amargurada e suja; para a crueldade, a ignorância, os mentecaptos e a ganância: poesia. Eis minha vingança.