Prometo não falar de política aqui. Esse é um asunto que me vira o estômago, me tira o sono e no final das contas me dá uma sensação de impotência horrível... Mas anda inevitável pensar se manisfestar sobre isso. Lula ou Nulo? Lulo?
Já que, se todo mundo votasse nulo, seria obrigatório haver uma NOVA ELEIÇÃO com outros candidatos, e os pilantras não poderiam concorrer ao mesmo cargo político pelo menos por mais 4 anos.---> Como bem disse muitos e-mails por aí!
Uma das minhas primeiras conversas com o Téo foi sobre política, quando ele fazia parte de uma ala do PT, e eu estava emergindo do mundo anarco-punk... Foram horas de discussões. Acho que hoje nem eu nem ele concordamos mais com nada que a gente disse a 5 anos atrás... Mais uma coisa a gente concorda: nada justifica um cara colocar um segurança em coma para "protestar". Me sinto uma idiota porque digo para o Vi que, mesmo que ele tenha a razão, na hora que ele usar a violência ele vai perder. Pronto, e aí começa o jornal nacional, e se não é esse tipo de violência, é daquele tipo que a gente se sente feito de bobo pelos 4 poderes (incluindo a imprensa).
Vai um texto que eu curti:
Provocações
Luís Fernando Veríssimo
A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.
A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.
Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.
Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.
Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando.
Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava.
Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- Violência, não!
Um comentário:
O problema é que não há "lado dos poderosos", pq há poderosos dos dois lados. Tem gente que se aproveita desse ressentimento acumulado dos pobres coitados e os usa a seus propósitos.
Não se enganem. Essa não é uma luta entre o "povo" e os "poderosos".
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