domingo, abril 08, 2007

Do blog "a sede do peixe":

Ecce Homo

para Nietzsche, que inventou o super-homem...

Depois de meia-hora de tentativas, Josué desistiu. Resolveu aceitar o fato. Ele não conseguira manter-se firme nos seus propósitos enquanto Vivi lhe esperava. Enfim, em português claro e objetivo, broxara.
Ninguém podia lhe acusar de nada. Ele tentara naquela hora o possível e o impossível. É certo que a moça não ajudou muito com aquela calcinha de renda com a expressão “Love Me” escrita atrás e nem sussurrando “Jôsu” no seu ouvido. “Jôsu” não dava, definitivamente. Mesmo assim, tentou. Até que começou bem, sem muita pressa. Mas à medida que o negócio não esquentava foi ficando preocupado. A partir daí, uma sucessão de tentativas desesperadas. Resolveu fechar os olhos e pensar em outros estímulos. Começou com as clássicas: Angelina Jolie, Scarllet Johansson, Nicole Kidman, Natalie Portman e, até por um segundo, Sandra Bullock. Mesmo assim, nada. Passou então para opções mais próximas e imediatas: sua cunhada, a vizinha loira do 907, a Lia (melhor amiga de Vivi) e até a irmã mais nova de sua mãe. Nada novamente. Foi se desesperando e resolveu então apelar para a ignorância: pensou na Xuxa e, como não obtivera resultado, dirigiu seus pensamentos para Magda Cotrofe na Playboy de abril de 86.
Não deu. Ele falhara. Fracassara. É a vida.

– Ah não, Jôsu. Vai desistir assim?
– ...
– Josué, responda. Diga alguma coisa!
– Não dá, Vivi. Hoje não vai rolar.
– Como não?
– Não vai.
– Isto nunca aconteceu comigo.
– Claro, pra você é mais fácil. O teu é de abrir. O meu é de armar. Mais trabalhoso.
– Além de broxa, é grosso!
– ...

Josué olha pro teto. Dia difícil aquele. Muito trabalho, IPVA pra pagar, calcinha escrita “Love Me”, outra derrota do Botafogo. Enfim, um dia difícil. Pensando bem, broxar era até um direito. E vendo por outro ângulo, percebeu que broxara bonito, com categoria. Se tentasse de novo, não conseguiria repetir. Ficou pensando nisto: como broxara de modo único, singular. Seria bom nisto? Não sabia. Não era a primeira vez que broxara, mas esta, com a Vivi (que todos os rapazes ambicionavam) era especial. Era uma broxada com classe, para profissionais. Não fez a coisa pela metade – algo como broxar no repeteco. Não. Broxou de primeira, como se fosse a única coisa capaz de fazer.
Josué pensou tanto nisto que sentiu orgulho de si próprio. Sentiu que, apesar dos problemas, era bom em algo. Que fazia bem feito certas coisas. Naquele momento, sentiu desejo de estar em um boteco com a turma do futebol e contar a todos: “Moçada, broxei com a Vivi!”. Coisa de macho broxar assim. A própria Vivi disse “isto nunca aconteceu comigo”. Então... ela se lembraria dele para sempre. Josué abriu um sorriso quando pensou nisto. “Eu sou o cara!”, pensou.
Eis então que sentiu algo estranho em seu corpo. Sim, seu corpo finalmente reagira aos seus apelos. Excitara-se. Mas não pela Vivi, mas sim com seus pensamentos para si próprio. Percebeu que Vivi não lhe inflava o ego. Percebeu, aliás, que nenhuma mulher era capaz de lhe inflar o ego naquele momento. Só ele seria capaz disto.
Olhou para Vivi. Sorriu. Ela percebeu sua excitação. Fez cara de expectativa.

– Jôsu, agora vai?
– Não.
– Não? Como não, Josué? Por quê?

Josué simplesmente abriu o melhor sorriso de sua vida. Levantou-se, vestiu-se e, na porta, virou-se para a estupefata e ofendida moça:
– Quer saber, Vivi? Eu me amo.
E se foi.

in João Pedro de Andrade

Um comentário:

Anônimo disse...

:)
a mente dá muita volta