
Religião é algo muito pessoal. O Brasil, assegurado pela constituição, é um estado laico, onde todas as pessoas podem manifestar suas crenças sem sofrer discriminação. Óbvio, e não é isso que está em discussão.
As Leis de Incentivo à Cultura, quando surgiram na era Collor, tinham um intuito claro e definido: fomentar a cultura no Brasil. Com suas qualidades e defeitos, realmente o fez. Hoje em dia vários estados brasileiros e várias das grandes cidades do país possuem as suas próprias leis de incentivo, além da lei federal (Lei Rouanet), que, através de impostos, financiam direta ou indiretamente projetos artísticos de todas as áreas. E realmente diversas iniciativas culturais importantes no país foram realizadas através dessas leis, inclusive esse próprio site. Mas isso muitos que freqüentam esse Overmundo sabem.
No caso específico da Lei Rouanet (que é geral a todos nós) várias alterações estão sendo discutidas. E realmente acredito que seja necessário mudanças, com o intuito de aprimorar a lei para atender as necessidades da dinâmica cultural de hoje. Por ser um importante instrumento de fomento cultural, ela deve ser amplamente discutida para ser aperfeiçoada, sem a menor sombra de dúvida. Vários pontos foram discutidos nas Câmaras Setoriais, inúmeras propostas recebidas e analisadas nas diferentes áreas, e o Ministério da Cultura realmente discutiu (e acredito que continua discutindo) com os artistas a respeito das políticas culturais, algo que realmente quase não acontecia.
Porém uma mudança na Lei Rouanet que foi proposta nesta semana no Senado Brasileiro realmente me deixou preocupado como artista. Sem querer discutir o que é ou não é cultura, podemos discutir sim o que a Lei Rouanet deve ou não deve apoiar. No caso da música, muito se fala que artistas consagrados de grandes gravadoras não deveriam ser contemplados pela lei, o que eu concordo, mas é algo que se pode aprofundar a discussão a respeito. Essa nova proposta no Senado prevê que Igrejas possam ser financiadas com recursos da lei. Ou seja, o possível patrocinador pode doar o dinheiro em troca de renúncia fiscal de parte de seu imposto de renda. As Igrejas estabelecidas no país já gozam de inúmeras renúncias fiscais, o que me leva a repudiar tal proposta veementemente como artista e também como cidadão. Todos sabem que milhares de Igrejas no país funcionam como lavagem de dinheiro, se aproveitando da fé do carente povo brasileiro, além de escândalos envolvendo padres, pastores, etc. Volto a dizer que essa discussão não é religiosa, e sim política. Por que propor que o Estado Brasileiro auxilie ainda mais as Igrejas? Será realmente que essas iniciativas religiosas necessitam mais da Lei Rouanet do que peças de teatros, shows, filmes, festivais, CDs, livros, exposições e diversas outras propostas que buscam na lei, muitas vezes, o último recurso para serem viabilizadas? Será mesmo que Igrejas precisam de financiamento público? Alguém no governo ou no congresso realmente acredita que essa é uma proposta justa para a sociedade brasileira? Será que essa proposta é tão urgente assim que tem que ser votada antes de tantas outras que estão há tempos esperando, com relação à segurança pública e educação por exemplo? As respostas parecem óbvias, porém os artistas tem que ser os primeiros a respondê-las.
Recentemente nós artistas tivemos um sério "embate" com a classe esportiva a cerca desse tema, que felizmente terminou bem, a princípio, para ambos. Agora os artistas terão que discutir novamente questões políticas com um outro segmento da sociedade, muito mais bem estruturado, diga-se de passagem. Como artista me sinto profundamente indignado e desrespeitado com tal proposta. Como cidadão, me sinto mais uma vez descrente com o poder público que teima em privilegiar interesses isolados.
Ah, é natural que essa proposta tenha vindo de um senador da "bancada religiosa". E poderia ser diferente? Nome: Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado a Igreja Universal. Sobrinho de quem? Edir Macedo. Precisa falar mais?
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12 comentários:
Bom, se referir que nao está em questão o que é cultura ou nao, é uma forma muito fácil de nao ter que explicar realmente as coisas. Primeiramente, quero deixar bem claro que NÃO TENHO RELIGIÃO, portanto, não estou falando aqui como fanática religiosa ou algo do tipo, portanto, repito que NÃO TENHO RELIGIÃO, sou apenas alguém que nao concorda com o que voce escreveu e resolveu deixar algo aqui para voce refletir. Sou estudante de Ciências Sociais da Unicamp, e dessa forma, conheci e convivi com diversos tipos de manifestações e tradições religiosas. O que te digo, é que a religião no Brasil É cultura, e como qualquer forma de cultura, deve ser mantida e cultivada pelas leis de apoio a cultura. Qualquer que seja essa religião. É essa mistura tão agradável que nos faz ser um país tão rico e tão amado. A questão, que vejo que existe desde que fui obrigada a estudar na faculdade uma matéria chamada "religião na contemporaneidade", um imenso preconceito quanto ás formas de vulto religioso. Sim, as pessoas pagam caro, dão o dízimo na igreja evangélica e também dão dinheiro em Igrejas Católicas e pelo que pude ver, fazem isso com gosto, com convicção de que fazem o certo. Tudo bem, os pastores e padres podem ser corruptos. Mas te darei agora, uma nova forma de pensar. Eu adoro Clara Nunes, é uma artista respeitada, mas ao analisar a biografia e as letras de quase todas suas músicas, vemos que é um apelo fortíssimo as religiões afro-brasileiras, a umbanda e o candomblé. Clara Nunes canta deuses, religião, e Clara Nunes é cultura. Os artistas que cantam outros deuses e outras religiões, também são cultura... O maior tempo de trabalho que fiz, foi um estudo em uma Igreja evangélica e pude perceber todo o preconceito que aquelas pessoas sofrem, justamente por questões como essas que você fez aqui. Uma coisa eu te digo: existem pastores corruptos e os não corruptos, existem padres safados e os nao safados, existem mães de santo honestas e desonestas. E não sei se você sabe, mas nao e so dentro de Igrejas que rola dinheiro nao, tem gente que chega em um centro espirita, em uma tenda de umbanda e paga caro por um trabalho que nao sabemos se é certo, honesto, ou nao. A questão, é que, a religião É uma manifestação cultural forte não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Existem religiosos que só escutam as músicas de sua religião e como brasileiros, praticantes da cultura brasileira, tem o direito de poder ouvir uma boa música, seja ela religiosa ou não. Durante o tempo em que passei estudando a Igreja Evangélica, por exemplo, vi alí crescerem crianças que tem o sonho de ter uma banda, vi adolescentes que passam os dias estudando e treinando seus instrumentos, vi pessoas que estudam musica nos conservatórios estaduais de música de suas cidades, apenas para serem bons musicos religiosos. Vi shows de bandas e pude ver no olhas e no nervosismo daqueles meninos, a emoçao e o prazer de estar tocando, de ver as pessoas cantando suas músicas, e nao importa para nos, quais sejam as letras de suas musicas. Conversei com esses meninos e vi o sonho de serem uma banda conhecida, de levar esse sonho a diante. Vi ótimos artistas, músicos, dançarinos, atores, adolescentes e adultos otimos nos intrumentos que tocam, vi vozes lindas, vi musicas boas, vi pessoas que vivem disso, que amam o que fazem. Não cabe a nos julgá-los porque suas musicas cantam algo que eles acreditam, e a nossa canta traição, dor de cotovelo, bundas, etc. Então, Estrela Leminski, sinto muito te dizer, mas essas pessoas, tão boas no que fazem, assim como você é boa no que faz, são tão artistas quanto voce!!!
Nossa, eu lamento muitíssimo em te dizer mas acho que você não entendeu o texto, ou não está por dentro dos mecanismos que regem a lei rouanet. Mesmo. Sugiro que pesquise e leia de novo.
Primeiro que os teus argumentos sobre a Clara Nunes e sobre os jovens artistas inseridos nas igrejas não é válido. Eles não precisariam ESTAR inseridos em religião para entrar na lei rouanet, eles já entrariam por estarem fazendo arte, e não por estarem abordando temas religiosos nas letras. Então, você não me disse o porquê que os TEMPLOS precisam entrar na lei também, porque é ISSO que a nova lei sugere.
(Reformas de igrejas seculares que estão capengando pelo Brasil? Sim, isso é emergencial. Sou APAIXONADA por Tirandentes, Ouro Preto, Olinda, Lençóis. Mas até onde eu sei todos os lugares turísticos e históricos tem uma verba que deveria ser destinada a isso)
Outra que eu RESPEITO TODAS AS RELIGIÕES, a crítica do Téo foi em relação a uma pessoa (e seus parentes) de dentro de uma delas que já sabemos o que aprontou.
Eu sou professora de música há 5 anos. Eu dou TODOS os créditos ao que a igreja faz de apoio a musicalização dos jovens, e PRINCIPALMENTE, por ter sido berço de toda a padronização, conservação e incentivo a música. E aqui eu incluo de novo TODAS as igrejas. Não é um previlégio da evangélica.
Ei? Por aqui tem alguma discusão sobre quem é mais artista que alguém? Eu não achei isso no texto!
Bom, a outra questão é que a Lei Rouanet, inserida no ministério da Cultura está virando a casa da MÃE JOANA. É PROBLEMÁTICO para a ARTE (aqui nao disse cultura) que ela seja dividida agora sem mais nem menos. Se isso acontecer, esqueça o boom do cinema nacional, esqueça os grupos de dança, esqueça todos os independentes, esqueça muitos espaços culturais. SIMPLES ASSIM!]
E do ponto de vista dos patrocinadores... O que você acha que vai "pegar bem" para a empresa:
- Patrocinar a reformas luxuosa de paróquias e templos espalhados pelo Brasil?
ou
- O novo filme super polêmico de Walter Salles?
Vamos ver do ponto de vista RELIOSO então. O que você acha que vai "pegar bem" para a empresa:
- Patrocinar as igrejas evangélicas, dona dos maiores templos, donas da grana, donas de boa parte da bancada do congresso?
ou
- Patrocinar os terreiros de umbanda e candomblé símbolos fortíssimos de toda a nossa IDENTIDADE CULTURAL? Ou ainda dos templos budista ou hare krishnas? Sinagogas? Mesquitas?
Qual é mais POPULAR? Qual dá mais visibilidade e marketing para a empresa? É nisso que uma empresa pensa. É assim que funciona a dinâmica da lei rouanet. E é por isso que essa é sim uma discussão MUITO MAIS política.
AS IGREJAS (católicas e evangélicas) JÀ TEM MILHÕES DE ISENÇÕES FISCAIS!!!! Senhorita anônima, você sabe quantos porcento de todos os meus cachês que é engolido por impostos??? É muito mais que um DÍZIMO!
Nesse mundo político temos que largar um pouco o Dom Quixote de lado, para não virarmos SANCHO PANÇA.
E vou terminar parafraseando o Téo (que é o autor deste texto que você está criticando, como você pode ler pela assinatura), com uma resposta que ele já deu para uma pessoa:
"Religião é cultura, assim como costumes também, vestuário, comida.... se for assim, tudo pode entrar na Lei Rouanet. Daqui a pouco desfiles de moda vão querer entrar também. Entende minha preocupação? Na verdade, o que chamamos de cultura, principalmente em política, se aproxima mais de arte, na minha opinião. Pois a cultura de um povo é tudo. Futebol faz parte da cultura brasileira, e assim vai. Mas eu acho que cada coisa tem o seu lugar. A sociedade tem que ser segmentada para poder se organizar e funcionar de uma maneira coerente. A lei roaunet surgiu para fomentar os artistas, na verdade. Música, teatro, exposições, livros, CDs, shows, festivais, arte digital, fotografia, e etc, etc. Isso que eu acho que deveria ser preservado. OK?"
Um abraço e thanxs pela discussão.
Concordo plenamente com a critica que o Téo fez para aquela pessoa em particular. Porém, acho que você não entendeu bem o que quis dizer.
Eu conheço sim a Lei Rouanet, não estaria aqui ocupando ume espaço do teu blog se eu não hoje eu não posso concordar mais.
A lei Rouanet, poder ser usada por empresas e pessoas físicas que desejam financiar projetos culturais. Sim, mas não concordo com teu argumento de que as empresas prefeririam patrocinar uma coisa ou outra, eu acho que depende de cada empresa, de cada pessoa física. Teriam pessoas que gostariam de patrocinar um filme do Walter Salles, e teriam pessoas que gostariam de patrocinar projetos culturais religiosos, independente de qual religião seria.
Sim, esses jovens estariam na lei apenas por estar fazendo cultura, porém, você sabe, nenhuma empresa vai querer patrocinar o show do “zé da igreja tal” ou do “joão do templo de umbanda tal” ou do “fulano do templo hare krishnas tal”. E essas pessoas, apesar de serem artistas e estarem fazendo arte, não seriam alcançadas por tal lei se seus templos, igrejas ou seja o que for, não forem alcançados como um todo, entende? Com esse patrocínio, os centros culturais de qualquer que seja a religião, poderiam ser melhorados, qualificados.
“Todos sabem que milhares de Igrejas no país funcionam como lavagem de dinheiro, se aproveitando da fé do carente povo brasileiro, além de escândalos envolvendo padres, pastores, etc.”. Milhares, mas não todas. E acho que isso é o que ocorre, a generalização. Exitem as grandes igrejas, mas também existem as de periferia, as que não tem energia elétrica, conheci uma igreja onde o pastor ia de bicicleta, era caseiro de uma fazenda, a igreja estava caindo aos pedaços.Portanto, não e porque um político e envolvido com um líder religioso corrupto, que todos os outros são também. O problema e que se cria uma imagem preconceituosa, tanto em Igrejas em templos, em tendas, seja o que for.Ocorre uma generalização. Da mesma forma como os grandes artistas não deveriam ser atingidos por tal lei (como foi dito no texto, e é algo que eu concordo plenamente), grandes templos religiosos também não deveriam ser contemplados, simplesmente porque como aqueles artistas, eles também nao precisam de mais dinheiro.
Como eu te disse, eu não tenho religião, então pra mim, seria muito mais agradável que peças de teatros, shows, filmes, festivais, CDs, livros, exposições fossem contempladas pela lei. Mas não sou egoísta ao ponto de achar que outras formas de cultura também não necessitam. Os hare krishnas possuem danças e musicas lindíssimas, os ubandistas também, portanto, não sei se você me entendeu, eu não estou defendendo a Igreja Evangélica, eu estou defendendo qualquer tipo de atividade cultural religiosa. Que como você disse, são “símbolos fortíssimos de toda a nossa IDENTIDADE CULTURAL”. Claro que o autor desse projeto, defende a sua religião, mas eu, que não tenho religião, defendo e respeito TODAS!! Eu citei mais a evangélica, pois foi onde centrei mais os meus estudos. Mas isso não quer dizer que eu defenda apenas ela, pelo contrario. E isso foi dito no comentário anterior. Acontece, que templos religiosos de qualquer que seja a religião, são registrados, o governo sabe que eles existem, portanto, não seriam so as igrejas evangélicas ou católicas grandes, luxuosas, que seriam mantidas por uma lei voltada para os templos religiosos como um todo.
“Qual dá mais visibilidade e marketing para a empresa?” Concordo plenamente com você. Mas vamos pensar…O que daria mais visibilidade e marketing para uma empresa, patrocinar show do Bruno e Marrone ou do Casca de Nós. Saiba que prefiro mil vezes a sua banda, mas entende o que quero te dizer? Quero te dizer que os menores não deveriam deixar de ser contemplados pelas leis, apenas porque os grandes são.
O que quero te dizer, e que temos uma visão preconceituosa de religiões como um todo, e é essa própria variabilidade cultural que nos faz ser assim. Tem muita coisa boa por trás de todas as religiões, é a nossa identidade, a nossa cultura, e tem as que não precisam de incentivo, mas tem as que precisam sim.
Eu não concordo com você de que se a lei contemplar também as religiões, o cinema nacional, grupos de dança, independentes, deixarão de existir. Você acha que uma empresa vai querer ver seu nome nos créditos de um filme exibido nacionalmente ou em um evento religioso qualquer? Acho que tem gosto e preferência para tudo. Se você fosse um patrocinador, não gostaria de patrocinar algo não religioso? Pois e, se eu fosse, também. Eu patrocinaria um filme que um grande amigo cineasta está produzindo aqui na minha cidade. Mas tem quem prefere patrocinar outras coisas, e essas outras coisas, não deveriam ser excluídas desse direito.
Entenda que não estou aqui pra criticar o texto postado, eu so estou aqui para expor minhas idéias. Para dizer que a tal lei Rouanet, deve sim englobar tudo no brasil que diz respeito a arte e cultura, sem preconceitos, sem barreiras. A nossa cultura não e só filme, só bandas independentes, só grupos de danças, as manifestações artísticas do nosso pais, também atingem a religião, as crenças. E TODOS esses tipos de manifestações devem ser mantidas e incentivadas.
um abraço de alguem que apesar de ter ideias diferentes, respeita e admira muito seu trabalho, suas poesias e sua musica.
Me permitam também entrar na discussão. Eu acho ótimo ter essas oportunidades de discutir esses assuntos, e poder colocar nossa idéias.
Primeiramente obrigado por respeitar nosso trabalho e a poesia da Estrela. Não é por termos idéias diferentes em um determiando assunto que não podemos nos respeitar e conversar abertaemnte e de forma madura sobre outras coisas também, não é mesmo?
O que eu acho errado nessa lei é que qualquer templo religioso seja contemplado pela lei, como se fossem bibliotecas e museus. Esses dois últimos resguardam livros e peças artísticas importantíssimas, é outra história. E o texto inicial do Senador era exclusivo a templo, e ficou menos pior quando estenderam a qualquer manifestação religiosa. Essa é minha única preocupação, pois acho que foge do foco da lei. Será que não vão usar para a construção de igrejas e templos também? Religião é algo muito particular, e o Estado não tem que se meter mais nisso. As igrejas e templos religiosos já tem várias renúncias fiscais, o que já é demais na minha opinião. Se o Estado vai poder financiar TODAS as manifestações, isso pra mim é uma intromissão. Cada um vai na igreja que quiser, paga dízimo pra quem quiser, mas a construção e financiamento disso não pode recair sobre a lei rouanet. Se os grupos religiosos organizados quiserem fazer um festival musical, ou gravar um CD, ou qualquer outra manifestação artística, aí tudo bem! Entende? Se duvidar isso já deve ser contemplado pela lei. Agora o que eu não acho certo é o fato da lei ser usada para custear e construir qualquer religião, mesmo que seja a minha. Eu já acho complicado, na verdade, a lei rouanet financiar reformas de prédios históricos e tudo mais. Isso tem que ser feito? É óbvio que sim! Existem inúmeras casas e prédios históricos que precisam de reforma, mas acho que deveria vir de uma outra parte do orçamento do governo, e não da lei rouanet. Mas pelo histórico da lei, isso já se faz há muito tempo e é difícil mudar. Bibliotecas, museus, etc. deveriam ser de outra parte do orçamento público. Se essa decisão dependesse de mim, era isso que eu faria. Deixaria as coisas mais segmentadas ainda, e isso com certeza iria proporcionar mais recursos para cada setor. Agora no caso de religião complica muito mais, por ser algo que não é unânime na sociedade. Por isso o ESTADO (governo) não deve se intrometer nisso, como fazia na Idade Média. Claro, não estou dizendo que estamos voltando para a Idade Média com essa proposta, mas é uma mistura desnecessária. Repito: se existirem festivais religiosos, ou algum projeto de registro disso, como há das manifestações indígenas aos montes, aí concordo que seja contemplado pela lei rouanet. Já deve ser, na verdade. Recentemente tivemos aquela polêmica com o esporte. Ainda bem que os dois segmentos saíram satisfeitos, pois cada um tem sua lei de icnentivo específica. Entende?
O papel do Estado é cuidar de suas instituições e da sociedade como um todo, e não pode se posicionar em assuntos muito específicos de cada pessoa, como a religião. Por isso que sou veementemente contra, como artista e cidadão, que a estrutura física e administrativa de igrejas e templos sejam contemplados pela lei roaunet. Se não, daqui a pouco campeonatos de futebol também vão querer, pois isso também é cultura. Pesquisas científicas também, pois faz parte do saber de um povo e isso também é cultura. Gastronomia e restaurantes também vão querer, pois a comida também faz parte da cultura, então também poderiam entrar. Entende agora minha preocupação? Daqui a pouco nós, artistas, vamos perder e ter que dividir com todos os outros segmentos uma das únicas iniciativas públicas que funcionam (mesmo com seus defeitos) a nosso favor, que demoramos muito pra conseguir.
Esqueci de dizer:
É claro que tem gente muito boa e humilde, que dedica sua vida à religião. Assim como existem milhares de picaretas na arte também. Não estou querendo generalizar nada, mas como em toda profissão existem pessoas de má fé que se aproveitam das situações para tirar vantagem e ferrar os outros. Além de todos esses argumentos que coloquei acima, abriria brecha para vários Edir Macedos da vida entrarem nisso e fazerem mais falcatruas.
Outra coisa, eu também acho que o Bruno e Marrone não deveriam ser contemplados pela lei rouanet. Disse isso no texto, e essa é uma das dificuldades que enfrentamos. Imagine se a gente for competir com as religiões ou com o esporte também! É algo que atinje diretamente minha profissão, por isso preciso me manifestar e defender os interesses de nossa classe. Tenho certeza que a maioria dos artistas pensa como a gente.
Minha cara anônima, porque se esconder? Afinal estamos aqui nos expondo, dispostos a discutir abertamente e de forma civilizada. Gosto do seu argumento de defesa sociológica das manifestações religiosas e de sua postura categórica contra o preconceito. Ele existe sim, é fato. Mas o contra-argumento não pode se basear na idéia de compensação indiscriminada. Acho que o preconceito deve ser tratado no âmbito de políticas de diversidade cultural e religiosa. Veja bem, a Lei Rouanet é um dos poucos mecanismos de que o Ministério da Cultura dispõe hoje para fomentar ações culturais em todo o país. Isso hoje representa menos de 1% do orçamento da união, sem contar as distorções à la Cirque du Soleil da vida. É muito pouco para contemplar a nossa diversidade artística. Você acha justo dividir essa sopa rala ainda com os templos religiosos, sejam eles opulentos ou não, mas que já são isentos de impostos? Nada contra o investimento em grupos artísticos ligados a manifestações religiosas. Recentemente o grupo de congado dos Arturos, remanecentes de um quilombo urbano aqui em Minas, teve patrocínio da Lei Rouanet. Nada mais justo. Sei também do CD de um grande compositor e instrumentista aqui de BH ligado à Igreja Batista bancado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Os batistas têm tradição na formação de músicos, mas o critério do trabalho a ser apoiado pelas leis de incentivo deve ser exclusivamente artístico-cultural. Ou você concordaria em dividir o orçamento do Ministério da Educação ou da Saúde por exemplo com os templos?
Eu não falei meu nome porque voces nao me conhecem, entao eu nao achei que precisaria. Mas me chamo Alice, tenho 22 anos. BOm Makely, concordo totalmente com voce, de que esse dinheiro seja totalmente dirigido para manifestações artisticas e culturais, foi o que eu disse, qualquer religiao tem sua manifestação artistica. Eu passei uns 3 dias em um tempo Hare Krishna e me encantei pelas musicas, pela dança.
Eu nao sou a favor que essa lei contemple reforma dos templos, por exemplo. Eu nao disse isso tao categoricamente nos dois outros posts, mas dei a entender que sou a favor que ela contemple todas as manifestações artisticas: danças, shows, músicas, peças teatrais, sejam elas religiosas ou não. Como eu disse, vi manifestações artisticas lindas em todas as religiões que frequentei para poder estudar, e como disse, eles também sao artistas, alguns muuuuuito bons por sinal e merecem essa lei de incentivo, merecem levar esse sonho a diante, como todos os artistas merecem, nao e mesmo?
Eu sou meio indignada com essas coisas, pois em todas as religioes que frequentei, vi pessoas sofrendo preconceito ali na minha frente e isso me deixou bastante atordoada.
Mas como voce disse, nao sou a favor que o dinheiro do ministerio da saude ou da educação seja revertido para os templos nao, até porque, nao tem muita funçao para eles la, a nao ser ser dirigido para algo que nao contemple seu objetivo. Mas suas manifestações artisticas, tao bonitas, tao variadas, tao ricas em cultura brasileira, eu sou a favor de que sejam incentivadas sim.
O que seria fomentar a cultura no Brasil? Compreendo que seja promover o desenvolvimento de projetos aos artistas que precisam de apoio para se manifestar. Não devemos diferençar nenhum artista que seja de alguma classe mesmo os ligados às instituições. Até aí tudo bem. Correto, não vamos estabelecer nenhuma crítica quando tratamos de artistas nem mesmo os religiosos (embora eu particularmente não tenho receio nenhum em dizer que mooooooorro de preguiça dos mesmos que são fanáticos, mas respeito muito os artistas que conseguem materializar o que é imaterial, mesmo que estes geralmente definem arte como dogma, o que pra mim já peca mesmo eu sendo ateia) que podem e devem receber a tal concessão. Mas o que implica diretamente e, é o real motivo de cairmos em cima desta mudança da lei rouanet e não vendarmos os olhos e não calar é o seguinte: "Os fiéis evangélicos já representam 15,4% da população brasileira, segundo o censo de 2000". E como destaca o sociólogo Gamaliel Carreiro "Uma igreja é uma firma religiosa. Uma empresa social que cria e trabalha para manter uma crença dentro da sociedade. A especialização surge quando essa firma constrói a crença de modo a satisfazer a necessidade do indivíduo”, e como ele demonstra dá para afirmarmos exatamente que a separação entre Igreja e Estado resultou na expansão de novos grupos religiosos, a maioria firmados em organizações econômicas e administrativas. Como podemos perceber, com esta aprovação e projetos megalomaniacos (como dá para sacar ser o lema dos grandes religiosos) que devem aparecer por aí, vamos ter daqui a pouco as maiores produtoras nas mãos dos pastores. A não aprovação de projetos pequenos e necessários ao pobre e grande artista que batalha para caralho para conceder aos fiéis boas verbas, que para tanto devem enfiar nos Santos ocos, nos óleos milagrosos e debaixo das batinas.
Que Deus honre a glória para não haver tamanha hipocrisia.
Pondere!!!!!!
Então Alice, o que a gente está querendo dizer é que estas manifestações já são contempladas pela lei rouanet. A lei rouanet aprova se o projeto está de acordo com a burocracia dele (não importando relevância ou religião) e te dão uma autorização para você correr atrás dos recursos junto as empresas.
E tem empresas várias ligadas a algum tipo de religião. Nessa parte do projeto é muito QI (quem indica). As empresas sim vão usar o critério artístico (na verdade de marketing). Portanto não necessita dessa alteração na lei porque na teoria já estão contemplados, e por isso não há ganho EFETIVO para estes grupos artísticos-religiosos.
E é por isso mesmo que está entrando na lei esse critério "templos". E está passando a lei asim, sem nenhuma alteração.
Este é o ponto. E é por isso que cheira a falcatrua de uns.
E como você disse, isso só serve para PIORAR o preconceito que muitos têm.
Um abraço!
Olhaí, gente. Parafraseando nosso querido Makely, "Reclamações, procurem a gerência":
presidente do Senado, Renan Calheiros (renan.calheiros@senador.gov.br) - fone (61) 3311-2261/2262,
presidente da Câmara Federal, deputado Arlindo Chinaglia (dep.arlindochinaglia@camara.gov.br) - fone:(61) 32158014,
pastor Crivella (crivella@senador.gov.br) – fones: (61) 3311-5730/5225 (Brasília) e (21) 2518-8444 (escritório no Rio).
Abrossas!
estrela
entrei no teu blog pela primeira vez e adorei tudo.
um grande beijo e boa sorte!
jussara salazar
O Jô quebrou o crivella ontem!
Esse cara (crivella) é pior do que eu pensava, um homofóbico babaca.
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