
1- Em sua opinião, quando, como e por que surgiu a música popular no Brasil?
A música popular brasileira aconteceu muito antes do que o que chamamos MPB hoje. A música feita por Chiquinha Gonzaga e Ernesto de Nazareth tinha um pé no erudito, outro no que era feito na Europa, mas já tinha suas peculiaridades. Nós brasileiros começamos misturando tudo desde sempre.
Essa música brasileira já começou sendo fruto da mistura do que tínhamos aqui: europeus, índios e negros. Faça uma combinação dos instrumentos, os ritmos e a melodia e você entende a fonte inesgotável que é a música brasileira. Foram muitos países que vieram para cá, que trouxeram muitas nações africanas à força e que encontraram diversas tribos indígenas. É uma conta que se aproxima do infinito. Acho que por isso que não dá para delimitar quando que essa música popular trazida para cá se tornou “brasileira”.
2- O que difere esse tipo de música que foi inicialmente rotulada de MPB das músicas que já existiam quando o termo ainda não havia sido inventado?
O que difere a MPB do que foi feito anteriormente não é tanto em aspectos musicais e sim de um contexto muito mais amplo, que inclui todo o discurso, toda a postura e movimento da época. A MPB surgiu como um símbolo de como o Brasil era e queria ser visto.
Se olharmos para o que a MPB já englobou de estilos percebemos que ela mesma não é bem delimitada em termos musicais. E se quisermos então pegar a sua sigla ao pé da letra aí sim que não temos nenhum parâmetro para ela. Mas não acho que ela precise de uma delimitação, “isso entra”, “isso não é MPB”. O que as pessoas entendem por MPB é muito variável.
3- Existem diferenças entre a música que se produz atualmente, rotulada de MPB e a música daquela época. Você acha que o termo hoje é mais abrangente do que antes? Pode se dizer que existe uma “nova MPB”?
Se MPB já era complicado delimitar, a nova MPB então... Tem gente que considera NOVA MPB os caras que fazem o mesmo estilo da MPB, mas por serem de uma nova geração não fazem parte do panteão dos compositores dos anos 60 e não podem configurar ao lado deles.
Tem outra leva que considera Nova MPB todo e qualquer novo nome que aparece na mídia fazendo “canção”.
E tem uma outra visão, que eu me enquadro, que encara essa Nova MPB como os compositores que estão buscando a mistura, a inovação e um aprimoramento e refinamento (não sendo necessariamente sinônimo de complexidade) de música e letra.
4- E sobre o seu trabalho musical, de que maneira você considera que ele se aproxima ou diverge dos modelos já propostos, e quais outros trabalhos você considera representantes dessa “nova MPB”?
Eu acabo enquadrando o meu trabalho nessa minha visão de “Nova MPB” por eu não me prender a estilo nenhum no que eu faço. Mas isso é uma tentativa inútil de auto-rotulação por uma necessidade de responder pelo meu trabalho. É apenas porque as pessoas perguntam sempre “que tipo de música eu faço”. Eu não posso simplesmente responder “canção” porque vai ter gente que vai imaginar que são músicas lentas ou românticas até. E isso não vai corresponder com o meu trabalho como um todo.
Tem muita gente do Brasil todo transitando entre várias influências e imprimindo um estilo próprio. São nomes que não estão estourando na mídia, não tocam em novela, mas estão aí para quem estiver com os ouvidos atentos. Tem um pessoal em São Paulo (Dona Zica, Kléber Albuquerque, Ceumar, Jumbo Elektro, o Teatro Mágico), em Belo Horizonte (Makely Ka, Renato Villaça, Kristof Silva), em Porto Alegre (os Poets), no nordeste todo (Lampirônicos, Cordel do Fogo Encantado) e aqui em Curitiba (Fato, Vadeco, Universo em Verso Livre).
5- Para onde você acha que caminha a música popular brasileira atual?
A gente está mergulhando nessa diversidade cultural e estamos minando essa tendência de “o estilo da moda” que se viu até os anos 90. Por mais que a mídia tente imprimir um tipo de música estamos imersos em tecnologia e informação vindas de todos os lados. Caminhamos cada vez mais para os “nichos de mercado”. Por mais que a gente esteja revivendo os anos 80, com todo o seu rock e todo o seu brega, todos os outros estilos continuam aí, e quem se interessar acha o que quer.
A única coisa é que esses novos compositores de música brasileira estão tendo que aprender lições que o rock já sabe há muito tempo, e cada vez mais se interligar apesar da grande mídia, e não mais esperar uma grande gravadora bater na sua porta. Está acabando a cultura do “demo tape”, que se gravava uma fitinha e ficava mandando para cima e para baixo. Hoje cada gravação caseira tem que ter um mínimo de qualidade suficiente para rodar na Internet independente de qualquer coisa.
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