
Inverno [Anhangabaú da felicidade]
(José Miguel Wisnik)
B7/9b Em B7 Em7
A minha casa é uma caixa de papelão ao relento
G7+ C7+
Brasa dormindo contra o vento
F#7 B7 Em7 B7/9b
Semente plantada no cimento, criança na calçada
Em B7 Em7
A minha casa é geladeira televisão sem nada dentro
G7+ C7+
Fogo que se alimenta do seu próprio alimento
F#7 B7 Em7 E7/9b
Corpo com corpo dando alento pra campanha do agasalho
Am7 D7 Dm7
O meu cenário é a fria luz da madrugada
Dm9 D7/9b
Dando espetáculo por nada
Dm9 D7/9b E7sus4/9b E7/9b
Calçada da fama iluminada pela Eletropaulo
Am7 D7 Dm7
A minha casa é a maloca rasgada no futuro
Dm9 D7/9b
É o inverno é o eterno enquanto duro
Dm9 B7/11+ E7sus4/9b B7/9b
Osso duro osso duro que ninguém há de roer
Em B7 Em7
A minha casa é o céu e o chão caroço bruto
G7+ C7+ F#7 B7 Em7 B7/9b
Catado no vão do viaduto dando pro Anhangabaú da felicidade
Em7 B7/9b Em7 B7/9b
Ah anhangá a-nhangá baú,
Em7 B7/9b Em7 Em7
Ah anhangá a-nhangá baú,
Bm7/5b E7/9b Am7 Am/G
Ah anhan gá a-nhangá baú
F#m7/5b B7/9b Em7/9 Em7/9
Da feli cidade
Anoitecer
poema De Carlos Drummond De Andrade/ José Miguel Wisnik
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
poema De Carlos Drummond De Andrade/ José Miguel Wisnik
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
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