Com a proximidade da chegada do Leon tenho pensado sobre educar uma criança.
Eu já educo várias crianças. Sou professora de música e lido diariamente com o emocional de bebês à pré-adolescentes. Com crianças abandonadas ou retiradas da casa dos pais e também com crianças super estimuladas e até super-pressionadas pela expectativa deles. Com crianças com dificuldade de aprendizado, interessadas, desinteressadas, com crianças "exemplo". Além disso tenho muitas amigas e amigos se tornando pais e mães, encarando os desafios diários do ensinar e do aprender com crianças pequenas. Vejo eles virando adultos a ponto de se sentirem a vontade de voltarem a ser criança.
Mas em poucos desses casos eu vejo, ou compartilho, o meu caso, que é educar e criar uma criança não gerada. Eu vivo com o meu enteado desde que ele tinha um ano. Há muitos a minha convivência com ele é plena e diária, 24 horas, full time. Com ele aprendi e aprendo a reconhecer meus erros e acertos, além de ter acompanhado tantos momentos bons e ruins (que não estava ao meu alcance). Como diz a letra da minha mãe, musicada pela Alzira:
"amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia"
E por essa e todas as histórias que eu vejo, concluo que amor não é algo INCONDICIONAL, é algo desenvolvido desde o olhar, até o brigar. Não digo carinho, não digo afeto. Digo AMOR. Pode ser um pouco piegas este papo, mas quem ENCARA estar nas coisas boas e ruins do filho sabe o quanto que há de desprendimento e abdicação de certas coisas e posturas numa relação com ele.
Quando a gente cria uma criança a gente percebe logo duas coisas. A primeira é que criança não guarda mágoa. A segunda é que criança armazena e imprime no seu ser cada gesto feito para ela. Ou seja, não sejamos ingênuos que uma besteira dita ou feita para uma criança é APAGADA só porque ela sai alegremente brincando e sorridente. E vice-versa, as coisas BOAS, quando lhe damos segurança, carinho e proteção, ela também imprime. Por mais que não diga isso o tempo todo ela demonstra tendo atitudes semelhantes as pessoas que ela gosta e respeita. Crianças são péssimas para ouvir e ótimas para imitar.
Além de péssimas ouvintes elas também não fazem idéia de como expressar seus sentimentos, e muito menos suas angústias. Quando uma criança muda bruscamente de atitude temos que refletir na hora: O que ela quer nos dizer e ainda não consegue?
E é aí que já começa todo um aprendizado com uma criança. Em vez de simplesmente repreendê-la porque ela aprontou na escola, podemos pensar se algo a está incomodando. Claro que às vezes um charuto é apenas um charuto. Como numa história que os pais foram chamados na escola porque a criança só desenhava com giz marrom e ALGUÉM achou que isso era um sintoma de depressão infantil. A criança foi pra terapia e descobriram que a criança era tímida, que as outras crianças pegavam as outras cores primeiro. E era só. Mas às vezes uma tesoura enfiada na tomada significa: POR FAVOR, ME OLHEM, EU NÃO ESTOU BEM!
Uma criança, filho (biológico ou não), é conquistada TODOS os dias. Aliás como em todas as relações humanas. Para ninguém basta um "eu gosto de você" em meio a milhares de gestos de descaso e desatenção. Criança não entende "eu moro longe", "eu preciso cuidar dos seus irmãos", "eu ando sem tempo". Criança não entende "o seu desenho é feio". Ela ouve isso e entende: eu não sou amado, talvez eu não mereça ser...
Esses tempos saiu uma matéria numa dessas revistas "Pais e Filhos": ADOTE SEU FILHO. Eu achei o máximo.
Um vínculo com uma criança não pode ser CORTADO, ou SUBSTITUÍDO. Não se pode desistir de uma criança e depois quando convém querer retomar o seu vínculo como se nada tivesse acontecido. O buraco vai estar lá. Não importa o DNA, se você é para o seu filho, nada destrói isso. O amor está em tudo, nas alegrias e na preocupações. Por isso eu dou uma SALVA DE PALMAS para todos aqueles (pais ou padrastos, mães ou madrastas, avós e avosdrastos) que SIMPLESMENTE ADOTARAM SEUS FILHOS!
E não por acaso, depois de ter escrito esse texto, chegou este e-mail da minha mãe, que sempre foi (AINDA BEM) muito MÁ:
O texto, em anexo, foi entregue pelo professor de Ética e Cidadania da Escola Objetivo Americana, Sr. Roberto Candelori, à todos os alunos da sala de aula, para que entregassem à seus pais. A única condição solicitada pelo mesmo, foi de que cada aluno ficasse ao lado dos pais até que terminassem a leitura. Nos dias de hoje, sementes plantadas como a deste professor, creio que devem ser repassadas; afinal, o futuro pertence às nossas crianças e somos nós que as orientamos para a vida!
O texto , abaixo, foi publicado por ocasião da morte de Tarcila Gusmão e Maria Eduarda Dourado, ambas de 16 anos, em Maracaípe - Porto de Galinhas, Pernambuco. Depois de 13 dias desaparecidas, as mães revelaram desconhecer os proprietários da casa onde as filhas tinham ido curtir o fim de semana. A tragédia abalou a opinião pública.O autor do texto é o Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra de Passo Fundo – Rio Grande do Sul
MÃES MÁS
Um dia quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes:
---- Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
--- Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
--- Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: " Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar".
--- Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
--- Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
--- Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em momentos até odiaram).
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também! E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:
--- "Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo...". As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos torradas. As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. E ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão. Ela insistia em saber onde estávamos à toda hora (tocava nosso celular de madrugada e "fuçava" nos nossos e-mails). Era quase uma prisão! Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia, que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela "violava as leis do trabalho infantil". Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruéis. Eu acho que ela nem dormia á noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata! Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa ( só para ver como estávamos ao voltar ).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: - Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.
FOI TUDO POR CAUSA DELA!
Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "PAIS MAUS", como minha mãe foi.
CREIO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE: NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS!
7 comentários:
Oie!
Sempre dou uma espiadinha aqui viu? Pq amo ler os seus textos.
Depois do que eu li agora até fiquei tranquila em saber que estou sendo Má o suficiente. Também posso dizer que não tive o meu pai por perto mas tive o meu avô e o melhor padrasto do mundo e as várias coisas que eles fizeram e me disseram fizeram muita diferença na minha vida, na verdade fizeram TODA a diferença. Eu vejo e sinto que vc faz a diferença na vida do Vivi e com certeza vai fazer mais uma criança muito feliz.
Deus te abençoe flor do céu!
BjoS!
NOBRE SUA PEOCUPAÇÃO.DISTRAÍDOS VENCEREMOS?
_______________
PARA SEU PAI...
PROFÉTICO POLACO (POLIGLOTA)
DA BARREIRINHA UNIVERSAL.
.
MESTRE ZEN DA POESIA
ABISSAL.
MOINHO DE VERSOS DISTORCIDOS
PELO TEMPO
DA ONDE VEIO O VENTO
QUE TE INSPIROU?
É UM SOPRO DO OLIMPO
AS VOSSAS FILHAS....
REUNIR TALENTO E BELEZA AO VIVO
NÃO É OBRA FÁCIL.
.
COM ALICE FEZ MARAVILHAS
SUA OBRA / ÁUREA
UMA ODE A ESTRELA GUIA
.
COM TODO RESPEITO
A MARIDO E NAMORADO /
PAI POETA
MESMO AGORA CALADO
.
DE TUDO QUE OUÇO E LEIO
DE TUDO QUE DISSESTES
.
DO TUDO QUE É TEU,
ATÉ AONDE VOCE ME TEU
( SEU DEDO DE MIDAS)
.
TUDO...
TUDO VIROU POESIA.
.
PRECOCE A SUA MORTE
COMPLETA A VOSSA OBRA
E PROFECIA.
De CicloBEAT
você já é a melhor mãe do mundo, sabia?
porque você é amor. dá pra ver nos teus olhos, vc exala amor quando fala com a gente...
=***
sempre passo, quase um vício, de entender o que nem eu digo.
não preciso dizer nada. tudo já está escrito.
talvez por isso eu sempre passe
cada passo é um passo seguinte.
sempre atento a suas palavras, Lê.
Esse texto eu postei ("Meme: Justiça, please, chega de impunidade!") porque ele é maravilhoso. Até fiz um trabalho com meus alunos. Mas somos mães maravilhosas sim! Temos nossos filhos para comprovar isso! Somos presentes, carinhosas, atentas... Amamos acima de tudo!
Beijos
Simplsmente por saber a história toda, eu quero e espero que você continue MÁ o suficiente para criar estes dois meninos lindos, o que já nasceu (mesmo que não tenha sido da sua barriga, mas cresce em seu coração) e o que está quase explodindo por aí.
É por isso e por tudo o que vejo e sinto, que adoro e amo a minha família!
bjs
Re
Eu, que também fui filha de uma 'bruxa muito má' - você vai descobrir que a 'mãe' oscila entre a fada e a bruxa -, tornei-me uma mãe 'bruxa' em bondade, daquelas que põe a Maga Patológica, a Madrasta da Branca de Neve e a a safada madrina do Sherek no chinelo. E sinto informá-la que na maioria da vezes, você tem que se superar na 'maldade'/bondade para dar conta desse papel de educadora, que eu prefiro chamar de civilizadora. Além de ensinar a comer vegetais e legumes, arrumar a cama, dizer bom dia!, por favor! e obrigado!, a não falar com estranhos e a navegar na internet, a não fazer xixi na rua e não cortar o macarrão com a faca, temos ainda que transformar esses seres em estado de natureza em seres sociais, verdadeiros sobreviventes e sujeitos à crueldade do outro e à intolerância. Por isso a cada dia, ecoa como um mantra uma frase que minha mãe me disse numa das muitas crises diante do meu aparente fracasso como civilizadora: "Qualquer coisa que fizer pelos seus filhos, faça de coração. Se é o certo, a gente nunca sabe!"
boa sorte, Estrela! parabéns pelo blog... ainda não sabes, mas esse blog é como um filho seu... nasceu de você e depende de você para viver e sobreviver... precisa ser cuidado e alimentado; e principalmente amado!
SilviaC.
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