
Foto by Carol Fernandes
"A história da verdadeira estória de Théo e Estrela
Há long time ago um casal de amigos segurou uma super barra que eu passei. Foi uma besteira dessas da vida. Hoje, olhando para trás eu acho ótimo que tenha acontecido, mas na época foi uma tragédia daquelas (!), o mundo todo veio abaixo e deu tudo errado por algum tempo, até que a vida se ocupou de colocar tudo nos eixos e me deixou seguir. Esse casal, o Téo e a Estrela, estava lá.
Ele é meu amigo do peito do tempo de colégio, e ela casou-se com ele e virou uma grande amiga também. O Téo é bom de segurar as barras dos amigos, ele é um doce de pessoa, abraça e diz que vai ficar tudo bem. A Estrela porque é do tipo mãe severa (tipo sacerdotisa celta, personagem da Marion Zimer Bradely, que eu adorava na adolescência). A Estrela gosta de astronomia, leu meu mapa astral e me deu conselhos.
Nessa época prometi que eu escreveria a “verdadeira” estória do casal. Cheguei a começar. Mas ficou ruim, bobo e mal escrito... acontece. Pensei no assunto, reli, reescrevi, até decidir jogar no lixo toda a porcaria. Puta merda, os caras foram legais comigo e eu retribuo com um texto ruim. A idéia era escrever uma estória infantil, assim já homenageava o filho deles, o Vinicius, na mesma tacada.
O duro é que depois de muitas esquinas a mais na vida, e algumas voltas depois no parafuso, parte daquela estória antiga voltou à tona. Mas dessa vez não como tragédia, nem como farsa e nem nada parecido... agora é só confuso e bom. Mais ou menos por coincidência Téo e Estrela estão novamente presentes assistindo tudo de camarote, rindo e chorando comigo mais uma vez. Lembrei-me da estória infantil que joguei fora na época e me arrependi um pouco de ter feito isso. Talvez não achasse mais tão ruim depois de tudo. Além disso, eu poderia melhora-la um pouquinho, reescrever, lapidar e quem sabe teria uma homenagenzinha sincera, ainda que boba e mal escrita. Iria calhar bem, porque ainda teria mais um serzinho para me dirigir lá dentro da Estrela! Então vou tentar me lembrar... o que não der eu invento.
***
Essa coisa de Tragédia e astronomia, com esses nomes, “Téo” e “Estrela”, me davam a impressão de que a estória que eu tinha que contar deveria ser uma espécie de mito; tinha que ter um tom trágico e se passar num tempo mágico que mistura hoje e a origem do mundo e de tudo mais. Tinha que ser um mito de amor meio impossível.
O protagonista da estória era “Théo”, ele havia criado um mundo. Fizera tudo por mera diversão. O que mais gostava na vida era de escutar e tocar música pop e blues. Contudo, também gostava muito de genética e era um dos melhores alunos de geografia no colégio. A vida lá em cima parecia ser bem enfadonha, então quando se cansava de suas escalas pentatônicas ia brincar de criar mundos, porque também o distraia. Inventou Rochas, atmosfera, proteínas, coacervados, e tudo mais que vocês conhecem, evolução das espécies e até o ser humano, que julgava ser sua obra prima.
A estória da Estrela era a de uma menina filha de um Sol e de uma Lua muito famosos no universo. Durante um período Estrela se incomodava muito com a importância de seus pais e decidiu que queria ir para bem longe, esquecer tudo e se tornar mortal. Então decidiu ser gente comum num planetinha qualquer que um deuzinho qualquer havia criado.
Théo de seu lado estava mais uma vez enfadado com tudo, o seu mundinho ia de mal a pior e sua vidinha não passava de lenga-lenga. Até que a nossa Estrela apareceu ali para contar a Théo sua estória e lhe pedir para se exilar no Planetinha. Ela contava tudo muito envergonhada, porque afinal de contas estava mesmo fugindo de casa como mais um adolescente. Ela esperava que Théo fosse diminuí-la, depreciá-la e manda-la de volta para sombra dos pais. Mas não; Théo ficou lisonjeado pela escolha de seu planetinha, pelo qual ele próprio já estava bem decepcionado.
Foi assim que se apaixonaram.
Mas vocês sabem como são essas coisas de se apaixonar... isso demora, até que os dois se toquem, até que um resolva dizer para o outro o que se sente muitas coisas acontecem. Além do mais Estrela era uma menina orgulhosa e gostava das coisas sob seu controle, então não podia desistir de seu plano assim por uma paixãozinha que nem sabia se ia dar em algo. Théo também não teve coragem de dizer a ela o que sentia, e a deixou partir para o mundo dos mortais. Os dois sabiam que isso era para sempre, porque uma vez la ela assumiria uma forma humana e se esqueceria de tudo.
Depois da partida de Estrela, Théo entrou numa crise ainda maior, porque seu amor por estrela crescia sem parar; toda sua decepção com aquele mundo se transformou em devoção; e começou a enxergar em si próprio todos os problemas que via no ser humano, o que o fez sentir uma compaixão enorme pelos pobres seres e pena de si mesmo também. Tudo isso fez com ele também decidisse mergulhar no esquecimento e se tornar mais um humano. Então fugir para dentro de sua própria criação.
Vagou muito tempo pelo mundo. Assim como Estrela vivia suas aventuras por ai, Théo fez sua vida como mais um humanozinho qualquer: chorou na morte do Airton Senna, fez intercâmbio nos Estados Unidos, participou do fã clube dos Paralamas do Sucesso (se compadeceu com o acidente do Herbert Viana), tocou em algumas bandas de música pop, estudou biologia e genética. Chegou a ter um filho, a quem ele deu um nome de humano bem humano: Vinicius; em função de um poeta meio canastrão, meio romântico, que se casou com nove mulheres diferentes durante a vida.
A força do destino fez com que Théo e Estrela se reencontrassem nas esquinas da vida. Apesar de não se lembrarem daquele passado junto aos deuses e aos astros, quando se apaixonam. Eles sentiam uma familiaridade enorme um pelo outro, se perguntavam se não seriam parentes distantes ou se não teriam alguma coisa dessas de vida passada, ou outras elucubrações de gênero esotérico. Mas na verdade ela reconheceu sua ternura e compreensão, além do jeito de piá meio nerd que gostava de música pop, escalas pentatônicas, genética e geografia, mesmo apesar da vida no mundo já ter lhe colocado alguns calos, outros sofrimentos e outras alegrias desconhecidas antes, como o seu filho Vinicius.
Ele viu nela a mesma menininha orgulhosa que fugira de casa atrás daquela mulher em sua frente. Ele viu em sua testa a estrela que brilhava lá longe no céu e que um dia se apagou para se refugiar naquele mundinho.
Estrela também se apaixonou por Vinicius. Os três viveram juntos muitos e muitos anos. Atualmente ela espera um filho de Théo. Hoje ela fez uma ecografia e descobriu que é um menino. Vai se chamar Leon: nome humano bem humano, de revolucionário russo, de quem deu a vida pelo que acreditava.
João Castelo Branco
in www.casadojoao.blogspot.com"
4 comentários:
Estrela querida, você sabe que eu sou chorona, né? Então imagina a minha cara inchada depois de ler essa homenagem ao casal (e filhos!) que merece todo amor (e mais um pouco) do mundo?
Ai, menina... Queria te encher de abraços, sabia?
Linda, sempre e pra sempre muito amada. Se cuida, hein?
Lindo!
Esse conto-crônica é de uma narrativa simples e que cai na alma como alfinetes na pele calma...Eu gostei da delicadeza, da separação e união entre o fato real e o que se imagina..abraços
Lindo, lindo. Sem comentários, simplesmente perfeito. Homenagem muito bacana.. dá pra sentir a sintonia.. hehe Beijos.
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