Pra começo de conversa não quero que essa seja uma postagem "monólogo". Estou convocando todos a meter o bedelho.
Andei pensando no quanto a música é uma arte ECLÉTICA. Muitos compositores transitam muito bem em N estilos, e isso é uma característica forte no Brasil (karnak, skank, paralamas, caetano, gil, buarque, tatit, arnaldo), é uma característica forte nessa coisa de canção.
Nas outra artes em geral isso não acontece muito. Temos alguns poetas que transitam entre a poesia marginal e a concreta, ou poetas-prosadores), temos fernando pessoa que até deu nome aos seus estilos diferentes... mas escritores que transitam entre o parnasiano, o modernismo e o concretismo, por exemplo...isso não conheço.
Mesmo no cinema, nas artes visuais (cubistas-impressionistas-pós modernos, outro exemplo) não têm... parece que os autores são "mais fiéis a si mesmos".
Isso é puro mérito de alguns compositores?
Isso é mérito?
Isso é Brasil?
Isso é a música?
"como é que chama o nome disso?"
16 comentários:
acho que isso é mérito de uma tradição musical-cultural miscigenada. aquela coisa da antropofagia lá do oswald. acontece que o campo da música popular absorve isso com mais facilidade porque talvez seja mais livre das academias. grande parte dos maiores compositores populares da história do brasil não tiveram nenhum tipo de formação musical tradicional. não dominam partitura, não conhecem teoria musical. isso muitas vezes também emburrece grande parte da produção. mas é uma porta para a liberdade e o exercício de um certo fazer espontaneo, sem ter que estar "esteticamente correto" com as escolas e movimentos.
por isso acho que a música é a arte mais livre. e mais multimidiática.
enfim...
isso é música popular brasileira.
YES! concordo... mas pq os diretores brasileiros, o artistas plásticos brasileiros, os dramaturgos não têm isso?
Não vejo como mérito, apesar de não poder deixar de defender a nossa música como realmente é: multifacetada, miscigenada e adaptativa. Acomoda-se facilmente tanto as realidades sócio-culturais e regionais como a tendências provenientes de sabeseláonde. Entendo que não exista na música algo a se seguir ou defender, como cubismo, parnasianismo, expressionismo ou qualquer outro movimento, nem acho que a composição musical careça disso.
Há 30 anos, quando escutava minha mãe ouvindo e acreditando na poesia que cantarolava, sabia que tanto a música como os músicos e compositores criavam algo que defendiam no contexto poético-filosófico e viviam a poesia, coisa que não se vê mais. Gravadora não quer composição que viva ou defenda alguma qualquer coisa, só que venda.
Você disse bem, existem estilos, muito bem freqüentado por todos a qualquer momento, numa cultura pop-mix-tupiniquim que é bela na circunscrição, mas peca na carência de identidade definida. Os diretores, os artistas plásticos dramaturgos e escritores têm sua identidade definida.
Acho que a música é bem o retrato atual de seu povo e os músicos abusam dessa possibilidade que a música dá para se fazerem pesquisadores de estilos qdo vão da bossa ao samba e ao rock em simples toques de Fowards de MP3.
Beijo
Andre Jerico
www.ideiadejerico.com
Estrela: até onde eu vejo o teor de mistura é grande em todas as artes brasileiras, inclusive na poesia (eu e muita gente pensamos nos compositores de música popular como sendo poetas também, aliás), sendo que um dos grandes responsáveis por isso foi o Paulo Leminski.
Claro que também tem gente que não admite esse tipo de comparações e aproximações, mas eu vejo a arte como uma grande zona de fronteiras, e o mais interessante nela são as intersecções.
Postei um continho do Kafka que sempre é bom ler e reler: veja lá.
Bem, como todo o respeito a todas as gerações precedentes, que tiveram todos seus N motivos para se alinharem a movimentos estéticos, que diziam muito com relação aos seus respectivos contextos, acho que, para nós dessa geração tão dispersa e pluralista, acho que se prender a um só "estilo" acaba sendo uma grande amarra. É a era do liquidificador ligado! Já que você nos convidou a meter o bedelho, te convido para dar uma visitadinha no meu humilde blog, nesse link aqui http://sindicatodosescritoresbaratos.blogspot.com/search/label/po%C3%A9tica
que é o link de uma poesia que fiz e fala exatamente sobre esses questionamentos acerca da ou das formas poéticas.
Bem, de resto só os parabéns, pelos belos poemas e pela belíssima série
sobre "o que não é poesia". Muito massa!
Grande abraço de um fã e poeta novato e envergonhado por meter tanto o bedelho!
Fui
Acho que o link não saiu direito, então, caso visite o blog, procure no marcador "Poética".
Valeu!
estrela, legal você puxar esse assunto, que é recorrente nas conversas aqui com o wilson de avellar, o chico de paula, o makely. é sim uma discussão acadêmica e/ou ligada a instituições que precisam de categorizações (universidade, recepção de hotel,lojas C&A). Há também um medo do ridículo e uma dificuldade de fazer dele a base de um fundamento estético, como faz o mautner, com domínio total. daí quem faz coisas bem comportadas por esse medo ou finge fazer coisas mal comportadas fica mal-na-fita. a música é mais livre pelos motivos mesmo que o Villaça indicou. nas artes visuais tenho visto que há cobrança por categorizações tanto quanto na poesia, porém com uma argumentação só um pouquinho mais mais rica e variada, não fica no mesmo bate-estaca.
sua tubarão!
Não sei se concordo totalmente... Tem tantos escritores que navegam pelo conto, poesia, romance, ensaio, reportagem, blog e lá se vai a lista embora. Claro que eles transitam por esses diferentes gêneros com uma característica pessoal marcante, que dá uma certa coerência - ou "cacoete" - para a coisa toda. Mas se formos por aí, esses maravilhosos músicos na tua lista também têm uma pegada inconfundível, seja tocando bossa-nova, rock ou baião. Acho que existem artistas que são versáteis e gostam de se experimentar com diversas ferramentas, estilos, mídias. E tem outros que se especializam em procurar a expressão profunda e essencial e um estilo específico, como o João Gilberto ou o Paulinho da Viola. E isso em todas as formas de expressão artística. Falei. Abração!
Vilaça: Também fiquei pensando, a falta de estudo ao meu ver gera essas bandas prontas instantâneas da mídia. neguinho fica tocando as modinhas covers e acaba fazendo parecido e cai lá. Esses que eu citei alí estudaram, e muito.
André Jerico: não vejo problemas nessa miscelânea desatada, mas quando ela não é despropositada...
Ivan: concordo que (alguns) letristas são poetas. Mas quando caio no estilo falo da coisa puramente musical.
caito: será então que isso é uma tendência em todas as áreas? A música só chegou na frente? a poesia chegando de segundona e esperamos o resto atentos com nossos binóculos?
negrão: é isso! necessidade de colocar rótulos... aí, bota na prateleira e um abraço. ah, o jabá...
vilaça: existe tubarão de antenas?
Taciano: Pois é, eles passam por diversas FORMAS, mas não ESTILOS... Mas esses exemplos da música foram bem bons. Eles vão fundo na coisa e se dão muito bem com isso!
Esses ismos, ismos, ismos... Então agora é o TUDISMO?
Poxa, não sei se chega a ser uma tendência, mas arrisco dizer que talvez devesse ser. Quanto a esperar, que nada, o negócio é jogar agua gelada na bunda de quem ta parado! Para fazer uma citação pop e barata, "só misturando pra ver no que vai dar"! Tudo bem que, apesar de chata, é também bem natural e compreensivel a necessidade de rotular, mas , quer saber, depois o biblioteconomista (ou o jornalista) que se vire!
Talvez agora seja o "idiossincrasismo" (que palavrão feio!)
Beijo!
Olá Estrela, de antemão gostaria de dizer que sempre acompanho seu blog (está em meus favoritos), pois compartilho de muitas coisas que escreve e de suas opiniões. Não sei se o que escrevi aqui tem haver com o que vc escreveu, mas entendi assim e como eu adoro discutir (no melhor sentido que essa palavra possa ter), vamos lá . Já que abriu esse embate, ousarei discordar, pois tenho pensado justamente o contrário. Claro que também sou um grande admirador de todos esses grupos e artistas que vc citou acima, mas creio que seja preciso tomar cuidado para não confundirmos o que as pessoas e a mídia especialmente chamam de “gênero musical”, ou “ritmos”, “tribos”, ou até mesmo timbres (como a inserção da tecnologia), ou seja lá o que for...com FORMA. Poderíamos fazer um paralelo (tosco, confesso, mas foi o primeiro que me ocorreu) com o cinema. Seria como um filme com o mesmo roteiro, mas com outros atores, outras falas e alguns efeitos especiais a mais. Essa FORMA da canção vem se repetindo há décadas e já foi abusada, espremida e estuprada o suficiente e sem nenhuma renovação pós Beatles. Penso ser exatamente na música onde os artistas tem mais se repetido e pouco evoluído em relação a todas as artes. Não podemos achar que uma mistura de funk com samba, ou canto gregoriano com frevo seja ecletismo, ou estilo diferente. É divertido fazer isso, pode ficar bacana, mas não é mudança de FORMA. Se pensarmos assim, teremos que achar um ator, que faz comédia e drama também eclético. Não pode ser.....esse é o trabalho dele, ele TEM que saber fazer isso. Todos os dias vemos artistas plásticos, atores, e até mesmo poetas querendo desconstruir o que já está gasto (desconstruir não é menosprezar o que já foi feito), querendo provocar o seu público e não apenas querendo arrancar aplausos (e o dindim) do mesmo....O que não podemos falar a mesma coisa da música (canção). Sempre aquelas regrinhas, as mesmas “fórmulas” melódicas, de construções rítmicas, com introdução, refrões, faixas em torno de dez a vinte canções por CD, com finais já pré-determinados (e de preferência impactantes ou em fade out), e até mesmo letras falando das mesmas ladainhas de sempre. Acredito que nós compositores de canção (junto com os músicos e arranjadores) estamos mais para autistas do que para artistas do nosso tempo.
Ê povo que fala...
Ah... de antenas não. Existe de modem.
Bj.
A discussão ficou conceitual. Oba! A tentativa de definir conceitos de forma, conteúdo, estilo, tipos, etc. faz correr tinta (ou pixels no nosso caso) há mais de dois mil anos. Quando a coisa envolve mais de um domínio artístico fica mais divertida ainda. Não me lembro quem disse: "escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura". No caso dessa frase acho que o tiro saiu pela culatra, pois dançar sobre arquitetura pode ser muito legal! Mas isso é outra história.
De volta aos conceitos, meu entendimento de "estilo" é que se trata de um conjunto de marcas que nos faz identificar algo. O estilo é aquela coisa que nos permite reconhecer um amigo de longe pelo jeito de andar. Ele é composto por uma série de maneirismos formais, ou cacoetes, que não são completamente apreensíveis apenas pela via intelectual. Por exemplo: podemos dizer que a disco music é estiliscamente definida pelo uso de oitavas no baixo, bateria com bumbo no chão e cortinas de cordas, ou que o reggae é identificado pela guitarra em stacatto na cabeça do segundo e quarto compassos marcando a harmonia. Mas isso dificilmente dá conta do que o reggae ou a disco são na sua essência. Por isso é difícil categorizar de forma precisa os estilos, e surgem tantos "ismos" para tentar dar conta disso. Por exemplo, quando gravo discos na forma de mp3 para ouvir no computador, meu programa de áudio obtém da internet os nomes de das músicas e do artista, e normalmente traz também uma categorização de estilo feita por um usuário anterior. Freqüentemente a categorização foi feita de uma forma completamente diferente da que eu teria escolhido. Em resumo, concordo com a definição dada pelo Alexandre Nero, que também chama isso de "estilo" ou "gênero", "ritmo musical" e "tribo".
Concordo com ele também quanto à "forma", embora eu tenha uma certa reserva com essa palavra. Quando a gente começa falar em forma tipicamente alguém fala em conteúdo e opõe uma coisa à outra. Eu escrevi sobre isso num post sobre a "trilogia das cores" do Kieslowski, por isso não vou me alongar aqui. Vou usar a palavra "forma" para dar conta de um conceito que também poderia se chamar "procedimento formal" ou "método" da criação artística. Um exemplo disso poderia ser chamado de "canção". Quero aqui me referir à forma predominante de criação musical hoje, que consiste na elaboração de uma linha melódica principal (que na música cantada é apreendida pela parte cantada, no jazz instrumental surge como "tema" e assim por diante) que é enquadrada em um arranjo harmônico. A melodia principal e a seqüência de acordes que compõem o arranjo harmônico escolhido servem como base para a atuação de todos os músicos. Essa forma é o que permite que a música seja representada por notações como as "cifras", tão amplamente distribuídas pela internet. Mas a canção não é a única forma possível. Gostaria de pegar o exemplo do Tom Zé, que descreveu de maneira brilhante a sua forma de produzir música no livro "Tropicalista Lenta Luta". Tom Zé trabalha essencialmente com ostinatos, fragmentos ritmo-melódicos que são superpostos sem preocupação com a harmonia funcional. Essa forma de música não consegue ser adequadamente representada numa "cifra", pois não consiste em uma seqüência de acordes dialogando com uma melodia principal. Trata-se mais de uma colagem de motivos e texturas de forma aparentemente desorganizada, mas que é esteticamente eficiente. Isso para mim é uma forma diferente, que se distingue da canção. Eu peguei o exemplo do Tom Zé porque me veio à cabeça, mas essa outra forma pode ser encontrada amiúde. Esse negócio começa na música erudita serial e minimalista, passa pelo James Brown na criação do funk e atinge o grande público na música eletrônica contemporânea. Aliás, o último disco do Tom Zé, o Danç-Êh-sá é justamente um diálogo (genial) com essa forma de criação da música eletrônica.
Para resumir, o meu entendimento é que há músicos que transitam por diversos estilos (bossa-nova, rock, baião, etc.) assim como há escritores que transitam por estilos distintos (ensaio, poesia, conto, romance, etc.), mas dificilmente um artista consegue um alto nível de proficiência em formas diferentes. O Borges, por exemplo, começou com o verso livre no movimento ultraísta (Fervor de Buenos Ayres, Luna de Enfrente) e acabou escrevendo predominantemente em formas e metros clássicos (soneto, alexandrino, endecassílabo, heptassílabo). Mas o que o torna realmente um grande escritor é sua prosa, que praticou em todos os gêneros, com exceção do romance.
Acho que devem haver sim escritores que transitam entre o parnasiano, o modernismo e o concretismo, embora nenhum nome me venha à cabeça agora (argumentar assim é fácil, né?). Mas provavelmente a poesia que lhes brota mais poderosamente do íntimo se expressa de uma forma menos versátil, e é por essa que acabamos por lhes (re)conhecer. Talvez não seja possível para nós frágeis humanos sermos possuídos de forma tão intensa por dois Deuses diferentes em uma única vida.
Excesso de estilo, para mim, é falta de estilo.
Abraço,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com
hmm.. têm alguma razões vocês dois. Os ismos que eu me referi tem todo um conceito embasando, o que não é estilo e sim movimento. Portanto não dá para comparar um com o outro. E aí o buraco é mais embaixo mesmo porque na música esse embasamento se deu na música erudita, e não na popular.
Mas também me dei conta que a música é a mais vendável das artes, e por isso ajuda esse "salve-se quem puder". Aí caímos numa questão de mídia...
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