
Em bates papos literários se martela: escrever por que? Para quem?
E não me venham com um papinho de "escrevo para mim", porque nem as adolescentes escrevem no diário só para si. No fundo há embutida a possibilidade de que alguém vai procurar, e achar, aquilo tão "secretamente" escrito. E quanto "frisson" há nisso!
Quem diz que seu leitor ideal é si mesmo é tão pretensioso e arrogante do que aquele que acha que o "seu dom" (tolinhos) lhe basta, e que não há necessidade de ler mais (uns dirão: para não se influenciarem).
Mas a pergunta não foi respondida. Escrever para quem? Ora, sempre se supõe um leitor esperado. Alguém que lerá e se identificará com tudo aquilo. Portanto nosso leitor está de acordo com os nossos limites culturais. Se não buscamos nada na linguagem, nenhuma inovação nem na forma nem conteúdo podemos estar bem contentes com "leitores de nota na agenda". Isso pode ser o máximo, a glória. E tudo bem. Palmas! E vamos mudar de assunto que para esses não vale perder tempo mais de um parágrafo.
Mas por que? Escrever é um ato pretensioso, ambicioso. Tanto que pode berar a covardia. Covarde com o leitor. Principalmente quando se considera que qualquer coisa dita, ainda mais se rimada ou coesa, irá satisfazer o leitor. Como se o fato de cantar por si só, transformasse alguém em músico. E muito irão apelar de novo para essa bobajada de "dom".
Os repentistas tem uma riqueza cultural enorme, treinam á beça e sabem muito bem quem é seu público. Criemos vergonha na cara, oh blogueiros. Nossos leitores somos nós (muitos até, pós-adolescentes, daqueles do primeiro parágrafo, que teimamos em algumas facetas de nós mesmos).
Antes que alguém prepare as pedras. Não é preciso ler "um segundo caderno" para se tornar escritor. Até porque não há MANUAL (sim de escrita, não para se tornar escritor, para isso não há fórmula). O que é necessário é um questionamento interno, uma angústia talvez, um olhar o mundo. E neste olhar, sinto muito, um olho é seu, mas o outro é do leitor.
7 comentários:
Talvez seja exatamente essa a parte mais difícil do ato de escrever: delimitar o público-alvo.
Quando pequenos, não somos incentivados a escrever para um leitor. O professor comanda apenas: "escreva uma redação de tantas linhas". Sem público. Sem leitor. E não sabem por que temos dificuldade de fazer redação na escola.
Beijo,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com
muitas vezes me pego apunhalando o espelho...
muitas vezes eu sou o espelho tentando me apunhalar...
quando leio o que escreve sinto que fujo de mim mesmo.
qualquer coisa escrita com tinta invisivel faz com que eu sinta alguns dos sentimentos cabíveis a um egoísta.
só você mesma com seu chicote de inúmeras pontas, cada qual com seus alfinetes, agulhas e bisturís;
só você mesma para instigar, pingar gotas de limão nos meus olhos.
qualquer coisa, escrevo por mim mesmo que ninguém o leia.(independente aos eros & assertos)
obrigado.
lê.
Poxa, ainda não tem o texto de hoje, mmmm!
O nariz é meu, os olhos. do leitor.
Gostei muito9 do texto, eu acho esse questionamento muito pertinente, sempre pensei em quem leria um texto meu que jogo na internert, e sinceramente sempre tive a pretensão de ser o mais lido possível. O cozinheiro cozinha para ser degustado e , se possível, elogiado, o que há de errado em termos um mínimo de vaidade como escritores?
Essa questão de quem será que lê sempre me atormentou na hora da escolha da linguagem de qualquer texto. Por um lado, essa vontade de ser o mais universal possível, mas por outro lado a necessidade gigante de ser "original", "novo", surpreendente e por ai vaí. Sempre pensei na idéia de que o Brasil não é um país muito leitor. O escritor geralmente se exime dessa responsabilidade, ao dizer que formar um publico leitor é responsabilidade das autoridades e por aí vai. Mas eu acho essa visão meio preguiçosa, acomodada, sem falar que fode com nossa vontade de também capitalizar (de maneira honesta, por que não?) nossa literatura. Enfim, são tantas coisas... Esse negócio de escrever para blogueiro, que é o que acontece conosco, é meio dúbio, pq muitos deles "se parecem" com a gente e também queremos saber como nossos escritos repercutem em pessoas distintas.
Mas uma coisa legal: esses dias um adovagado ligou em casa me procurando, querendo resolver uma encrenquinha, e disse sabia que eu era escritor pq o filho dele me conhecia e gostava. O moleque mora em outro lado de sampa, não tem nada em comum comigo, por sinal é vocalista de uma banda de pagode, e disse que gostava a beça. Meu, quase morri de emoção, ganhei o dia, o mês e o ano! ou seja: ser lido e saber disso e realmente um tesão!
Enfim, falei, falei e não conclui porra nenhuma!
Beijo!
o ser humano gosta de ser visto. mesmo que se esconda atrás de um fake ou um nome falso, mas ele sabe que é ele quem está ali, a quem estão criticando ou admirando. há uma delícia indescritível nisso.
adoro quando um texto me lê.
obrigada por fazê-lo.
nana (a invasora, rsrs)
Disse o escritor visionário:"Escrevo para o Futuro!"
Por isso, ninguém nunca o leu.
:)
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