sábado, setembro 11, 2010

Música de Ruiz é sutil na variedade 11 de setembro de 2010 | 0h 00

Lauro Lisboa Garcia - O Estado de S.Paulo

Expoentes da "vanguarda paulistana" e seus sucessores da cena independente (Ná Ozzetti, Miriam Maria, Carlos Careqa, Anelis Assumpção, Ceumar, André Abujamra, Rubi, Natália Mallo e outros) endossam São Sons, da banda curitibana Música de Ruiz, liderada pelo casal Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz. Sintomático. Eles trazem naturalmente a influência da poética e da sonoridade supostamente vanguardista de suas origens (ela é filha dos poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz), especialmente em canções como Quirera, em que reafirmam seu manifesto "contra-indústria".
Ademais, a dupla faz pop art, diversificando seu som entre a canção tradicional, com alusões ao samba, ao jongo e ao choro, folk, rock, tango e eletrônica. A faixa-título (com Abujamra), Tudo Mito (com Janaína Fellini e Rogéria Holtz), o tango Verossímil (com Kléber Albuquerque), Cada Cabeça Uma Sentença (com Carlos Careqa) e Chapéu de Sobra (com Ná) são algumas das mais ritmadas.

Entre as canções mais sutis e harmônicas destacam-se Parecer, interpretada por Miriam Maria, Evapora (com Natália Mallo) e Reinvento, parceria de Téo com Ceumar, que a cantora mineira já tinha gravado, abrindo seu álbum mais recente, e recria lindamente aqui. Outras, só com o vocal de Estrela, também primam pela delicadeza. São temas em que se justificam o "reinventar a nossa fórmula de sucesso", como eles dizem em Quirera, que remete a Prezadíssimos Ouvintes, de Itamar Assumpção. Quer dizer, poderiam tranquilamente reverberar nas ondas do rádio, se restasse um mínimo de inteligência na maioria das emissoras comerciais brasileiras.

Quirera é um baião-rock-rap que abre o CD, com Anelis Assumpção como convidada, com os seguintes versos: "Se vocês querem essa quirera de música de sucesso/ Espera, mas espera sentado contemplando o retrocesso/ Pudera, quem pensa em lucro e grana/ Pensa em gana, drama e fama/ Pondera, ser artista não é empenho?/ Estudo, instrumento, palavra, sentimento/ Gravar, divulgar, negociar, cobrar, muito ensaio/ Tudo isso dá trabalho pra caramba"... E por aí vai. Mais adiante eles protestam: "Mas que hora, mais uma crise de mercado/ Se não tem QI tá ferrado/ Patrocinador evapora/ E até lei de incentivo/ Acaba dando o crivo pra quem está muito bem servido/Ou tem um marqueteiro querido..." Estrela comenta que escreveu a letra inspirada nas dificuldades que a banda tem para viver de música.

Estrela (formada em educação artística) e Téo (biólogo) criaram o grupo Casca de Nós em 2002, idealizaram o Projeto Independência ou Sorte, de intercâmbio entre artistas independentes, publicaram o manifesto Contra-Indústria e (ela) livros de poesia. Lançaram o primeiro disco do Música de Ruiz (Sim e Não) em 2006, reunindo parcerias da dupla com poetas contemporâneos como Makely Ka e Alice Ruiz. Produzido e arranjado por Fred Teixeira e Dú Gomide (guitarristas da banda), São Sons atesta a evolução do Música de Ruiz, em composição, poesia e sonoridade.

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