terça-feira, abril 17, 2007

CAIU NA REDE: Nossa, texto perfeito para boadrastas de plantão!


http://www.desabafodemae.com.br/web/desabafo.asp?paCodigo=162

Palavra de madrasta

Estados Unidos - Sempre ouvi na minha infância a frase "Pai e mãe é quem cria, não quem gera". Sábias palavras que se aplicam aos pais adotivos e, por que não, também aos padrastos e madrastas. Não falo daqueles parceiros de pais ou mães separados que interagem (cheios de boas intenções) com as crias de seus amores em fins de semana e viagens de férias, mas daqueles que assumem o difícil papel de efetivamente criar uma criança sem ter com ela um laço com a força do arquétipo materno ou paterno.

É, porque ele é poderoso e funciona como escudo para os pais, que de simples humanos passam a ser criaturas míticas, quando embaixo dos "mantos" de pai e mãe (ao menos até a adolescência). O que, convenhamos, não resolve todos os problemas do mundo, mas facilita em muito o trato com a criança. E falo por experiência, pois fui bem criada por meu padrasto e crio já há sete anos a filha de meu marido.

Crio com amor e, já que sinceridade é essencial neste espaço, com igual quantia de dificuldades. E agradeço que este amor supera em qualidade a quantidade de problemas decorrentes de uma relação tão próxima e delicada. Há muitos anos que o "você não é minha mãe" não entra em questão, porque ela entende que sou responsável por ela e é neste âmbito em que atuo. Assim como não me coloco mesmo no lugar de mãe, que não me pertence nesta relação.

Mas esta diferenciação não faz a convivência fácil, até por ser a responsabilidade imensa e os trabalhos, como dizer "não", pesados. Afinal, não há modelos prontos para esta relação e ela vive sim comigo e sou eu quem lhe segura a mão. É até difícil de explicar. Amo a minha enteada, agora com 14 anos. Sei também que ela não me vê como a "má drasta" dos contos de fada. Até os nossos desentendimentos ocasionais sinalizam que existe um contato forte o suficiente para que saibamos que podemos ser nós mesmas, nos irritarmos e mesmo assim estarmos disponíveis uma para a outra independente das divergências.

Com ela cresci muito, afinal, saí do meu umbigo para enxergar também as necessidades de outro ser humano. São inúmeros os compromissos que assumi e as tarefas "de mãe e pai" que já desempenhei. Isto tudo sem o preparatório dos 9 meses de estadia em minha barriga, sem o vínculo da amamentação, sem participar dos primeiros 7 anos da vida dela. Mas participo, pois, devido a situações na vida dela e na minha, não poderia fazer diferente. No entanto, fico impotente em relação a uma série de acontecimentos: não consigo suprir todas as carências e dar todas as seguranças. Não sou detentora do manto sagrado e as expectativas maiores não são a mim dirigidas.

Não estou tentando aqui ganhar o prêmio "super madrasta" ou "mãe honorária", mas apontar os detalhes desta relação e levantar a questão da madrasta atuante, até para o bem das crianças que crescem neste arranjo familiar com mais freqüência nos dias de hoje. Se não existe um manual sobre como ser mãe, imagine como é solitário o caminhar da madrasta. O vínculo não acontece no automático, como um impulso, um instinto. Não é um encaixe perfeito, uma relação inquestionável e óbvia, mas fruto de muito trabalho.

Até porque ninguém sonha em se apaixonar por um homem com um casamento desfeito e filhos na bagagem. Mas é uma escolha diária o comprometimento. É com isto em mente que proponho uma mudança no ditado quando se pensa em padrastos e madrastas atuantes. Que ele seja quase uma oração: "O título de pai e mãe é sim de quem gera, mas que transbordem de amor e coragem os que criam, independentemente de suas posições no mundo da criança". Tenho certeza que os pais que geram e criam vão concordar comigo.

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